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Maternidade Escola Januário Cicco ‘sonha’ com atendimento exclusivo de média e alta complexidade

Geral

30.12.2012

A ineficiência da rede de atenção materna municipal e estadual tem prejudicado o atendimento da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), que, na teoria, tem como missão atender gestantes de alto risco, cirurgias ginecológicas e atendimento ginecológico especializado. A missão da Maternidade não sai da teoria, porque, na prática, boa parte do atendimento é de parturientes de baixa complexidade, que seria de responsabilidade do Município, além da alta demanda de pacientes oriundos do interior do Estado, que buscam atendimento na MEJC, pois as maternidades dos Hospitais Regionais não funcionam. O sonho da direção seria transformar a Maternidade com atendimento exclusivo para média e alta complexidade, com atendimento referenciado, assim como hoje é realizado no Hospital Universitário Onofre Lopes (Huol).

Atualmente, a Maternidade Escola Januário Cicco é um Hospital Universitário e de Ensino para atendimento de média e alta complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e dispõe de 92 leitos. A UTI Neonatal, que funciona com 10 leitos na MEJC, é uma das poucas no Estado que atendem pacientes do SUS. Além disso, são mais cinco leitos intermediários de UTI Neonatal e seis leitos de UTI Materna. Na manhã deste sábado (29), além dos 92 leitos ocupados, 22 pacientes estavam espalhadas pelos corredores, em macas e cadeiras. Na sexta-feira (28), o número era maior, 25.

A Maternidade tem uma importância fundamental na formação profissional. Ela abriga residências médicas nas áreas de: Toco-Ginecologia, Endoscopia Ginecológica e Pediatria (sendo especialização em Gastrologia, Neonatologia, Neurologia e Endocrinologia Infantil), além de estágios nos diversos cursos de saúde da UFRN, como fonoaudiologia, fisioterapia, serviço social, nutrição, enfermagem e de Ensino Médio em Enfermagem. São 24 residentes de obstetrícia médica, 20 residentes de pediatria e especialidades pediátricas, além de 40 estudantes de medicina.

No entanto, a alta demanda de pacientes tem atrapalhado o ensino da Maternidade Escola aos futuros profissionais. “Estamos formando os profissionais de amanhã e se não consigo formá-los bem, qual a qualidade que esse médico terá no futuro no atendimento materno? Hoje estamos ensinando com alguma deficiência, em virtude da alta demanda do serviço”, diz a diretora clínica da Maternidade, Maria da Guia Medeiros.

Ela explica que, nos documentos que constam no Ministério da Saúde (MS) e na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a missão da Maternidade Escola Januário Cicco é de atendimento exclusivo de média e alta complexidade, fato que, há anos, não vem sendo cumprido. “Gostaríamos que fôssemos respeitados, mas enquanto o Estado e os Municípios continuarem sem prestar atendimento e encaminharem pacientes de baixa complexidade para a nossa maternidade, essa nossa missão não sairá do papel e ficará apenas em sonho. As gestantes que baterem na nossa porta, mesmo as de parto norma1, nós temos que acolher. Não podemos fechar as portas”, desabafou a diretora.

Embora seja um desejo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC) em restringir o atendimento da maternidade em apenas média e alta complexidade, a diretora Maria da Guia Medeiros explica que não existe nenhum instrumento legal que proíba a maternidade de receber pacientes de baixa complexidade.

“É um desejo nosso que isso aconteça, mas a UFRN não pode determinar que a MEJC não atenda mais pacientes de baixa complexidade. Isso só será possível quando Estado e Município fizerem sua parte e, daí, poderemos cumprir a nossa missão. O Ministério da Saúde, o Ministério Público, o Governo do Estado e a Prefeitura de Natal já têm conhecimento da situação, pois entregamos um documento relatando os problemas do atendimento materno e apontando as possíveis soluções. Hoje temos oito pacientes de alto risco que estão nos corredores e deveriam estar nos leitos de enfermaria, que estão ocupados por mulheres de baixo risco. Quando o ideal era alojá-las nas enfermarias para que pudéssemos dar uma melhor assistência”, afirmou.

Maria da Guia Medeiros disse que, como faz diariamente, ligou para as maternidades do município em busca de vagas para pacientes de baixa complexidade. A Maternidade das Quintas disponibilizou apenas três vagas, enquanto que a Maternidade de Felipe Camarão disponibilizou seis leitos. A Maternidade Leide Morais continua com o atendimento suspenso. Na manhã deste sábado, apenas uma enfermeira estava de plantão para realizar exames de Cardiotocografia (CTG), que monitora o bebê ainda na barriga da mãe.

Enquanto isso, as gestantes enchem os corredores da Maternidade Escola Januário Cicco. Maria das Dores, de 31 anos, teve que percorrer uma distância de 158 km para dar a luz ao seu primeiro filho. Ela mora no município de Pedro Avelino e como não havia atendimento nos municípios de Assú e João Câmara, que eram as unidades mais próximas de sua cidade, ela foi transferida para a Maternidade Januário Cicco na madrugada deste sábado para realizar seu parto normal.

“É ruim, pois queríamos realizar o nosso parto perto de casa, para ficar próximo da família, mas os hospitais não funcionam e somos obrigados a vir pra Natal. Quando chegamos aqui temos que ficar nos corredores. É constrangedor, pois não temos privacidade, mas é o que temos que enfrentar”, disse a mãe.

Maria da Piedade, de 18 anos, teve que percorrer uma distância menor para chegar para que a pequena Maria Alice nascesse. Ela mora no município de Espírito Santo, distante 69 quilômetros da capital, e antes de ser transferida para a Maternidade Januário Cicco procurou atendimento na maternidade do Hospital Regional de São José de Mipibu, mas foi informada que não tinha atendimento materno, por falta de médicos. “Estava sentindo dores e ainda fiquei rodando atrás de atendimento. É muito incômodo, pois esse é um momento muito especial na vida de uma mulher e deveríamos ter uma atenção melhor e não ficar em uma cadeira depois do parto”, afirmou a mãe de Maria Alice, que nasceu na madrugada deste sábado.
Reprodução: Jornal de Hoje