Ministério da Saúde inicia atividades no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
Geral
03.01.2013
Apesar da superlotação, de pacientes aguardando procedimento médico em leitos improvisados em macas nos corredores, falta de profissionais e desabastecimento, o ano de 2013 começou com boas perspectivas para o maior hospital de urgência e emergência do Rio Grande do Norte, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. No primeiro dia útil do ano, o apoiador do Ministério da Saúde, o enfermeiro Marcelo Bessa, começou os trabalhos do programa SOS Emergência na unidade hospitalar e acendeu a chama da esperança por dias melhores no Hospital.
O programa SOS Emergência é uma ação estratégica tripartite pactuada, entre gestores, para consolidar esforços para os problemas identificados serem resolvidos. A metodologia do programa tem como fundamento que a ação emergencial resolveria somente a crise, porém para a solução definitiva é necessário uma transformação na gestão. Desde outubro que o Walfredo Gurgel estava inserido no programa SOS Emergência, inclusive recebendo recursos, mas só agora que foi escolhido o apoiador que trabalhará diariamente no Hospital.
A diretora geral do Hospital Walfredo Gurgel, Fátima Pinheiro, explica que a presença do apoiador do Ministério da Saúde não significa uma intervenção federal, mas “uma ajuda na gestão dos problemas”. “É muito importante a presença de um apoiador do Ministério da Saúde para nos ajudar a solucionar os inúmeros problemas do hospital, principalmente nas ações para diminuir a sobrecarga. O Walfredo não é problema, mas sim solução da rede. Além disso, estou feliz com a indicação de Cipriano Maia para a Secretaria de Saúde do Município. Acredito que 2013 será um ano bom para a saúde do Estado”, destacou Fátima Pinheiro.
Marcelo Bessa explica que o programa SOS Emergência é uma parceria entre o Ministério da Saúde e as Secretarias estaduais de Saúde e que atualmente 11 hospitais no Brasil já fazem parte do programa. O Hospital Walfredo Gurgel é o 12º. Até 2014, a meta é que 40 hospitais façam parte do SOS Emergência. “Não é apenas uma ajuda financeira, mas é uma questão de gestão. Esse é o marco principal”, disse. Além do apoiador regional, o Walfredo também contará com um apoiador do MS matricial, que virá periodicamente.
No primeiro dia de trabalho, Marcelo Bessa se reuniu com a diretora geral do Walfredo Gurgel, Fátima Pinheiro para traçar a metodologia de trabalho. “Temos muita coisa boa no Walfredo Gurgel e vamos focar naquilo que podemos melhorar, mas para isso precisamos contar o apoio de todos. O nosso objetivo é discutir com os profissionais que vivem a realidade do Walfredo a situação, procurar entender e melhorar. Além disso, pretendemos trabalhar com as demais redes, de modo que possamos deixar o Hospital para atender apenas a urgência e emergência e o trauma”, disse Marcelo Bessa.
Fátima Pinheiro concorda com o apoiador no sentido de contar com a participação de todos que fazem o Walfredo Gurgel nesse processo de mudança. “Defendo que a gestão tenha que se como uma pirâmide invertida, de modo que gestor maior esteja em baixo e os demais profissionais em cima. Caso eles não colaborem, não ajudem e nem participem do processo, somos esmagados”, afirmou. Para a diretora, a ambulancoterapia é o grande problema a ser enfrentado. “Se o município começar a fazer a sua parte e os hospitais regionais deixarem de mandar seus pacientes para Natal é o primeiro passo para conseguirmos mudar essa realidade. Pois sem isso, é impossível cumprir metas”, destacou Fátima Pinheiro.
Marcelo Bessa conta que dividiu o trabalho a ser realizado no Walfredo Gurgel em quatro fases. Na primeira fase, será criado o núcleo de acesso e qualidade hospitalar, que deve trabalhar nas mudanças necessárias, melhorar a classificação de risco e aperfeiçoar o monitoramento. A expectativa é que este núcleo seja criado até o final de janeiro. A 2ª fase corresponde a reorganização do serviço. A 3ª fase será responsável pelo aperfeiçoamento e monitoramento das atividades, praticar a solução e garantir a qualidade do serviço, além da criação do Procedimento Operacional Padrão (POP). A 4ª fase corresponde ao estabelecimento de metas, validação, cumprimento do POP e relatório e resultados. Todo esse planejamento deve ser executado ao longo de 2013.
A diretora Fátima Pinheiro conta que o Walfredo Gurgel já recebeu R$ 2,4 milhões oriundos do Programa SOS Emergência e que com a presença do apoiador há uma garantia maior dos recursos continuarem chegando. Por mês, são destinados R$ 650 mil para compras de insumos, material hospitalar, medicamentos, dentre outras necessidades do Hospital.
Marcelo Bessa já foi diretor de enfermagem do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, entre os anos de 2006 e 2009. Hoje ele é presidente da Cooperativa de Enfermagem do Rio Grande do Norte, e também já foi presidente da Associação Brasileira de Enfermagem e subcoordenador da Coordenadoria de Operacionalização de Hospitais e Unidades de Referência (COHUR), da Secretaria estadual de Saúde Pública (Sesap). Marcelo Bessa é especialista em Terapia Intensiva e em Educação e recentemente concluiu especialização em transplantes no Albert Einsten. Ele disse que chega otimista para somar com a equipe do Walfredo Gurgel a fim de promover as mudanças necessárias. “Chego otimista para realizar esse trabalho porque eu conheço o Walfredo Gurgel e acredito que encontrarei aliados para melhorar a qualidade do serviço oferecido no hospital”, afirmou.
Superlotação continua
Na manhã desta quarta-feira (2), os corredores do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel voltaram a ficar lotados de macas. São 93 pacientes nos corredores, sendo 42 de clínica médica e 28 esperando transferência para cirurgia eletiva ortopédica. À espera de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estão 23 pacientes. Dezoito pacientes que necessitam de ventilação mecânica estão entubados na sala de reanimação.
Uma das coordenadoras do Pronto Socorro Clóvis Sarinho, a enfermeira Gracinalda Barbosa, disse que a situação de superlotação tem deixado os profissionais saturados. Ela conta que a deficiência da atenção básica, que não realizam o acompanhamento dos pacientes, faz que com eles cheguem a unidades “nas últimas”. Gracinalda conta que hoje, quando chegou ao trabalho e viu a situação do Walfredo Gurgel pensou em voltar para casa. “Estou pensando em pedir licença prêmio para ver se fico um pouco longe dessa situação”, afirmou.
“O Pronto Socorro cresce em progressão geométrica, pois não tem mais para onde ir. Os profissionais estão entrando em colapso diante de tanto estresse. Faltam materiais e profissionais e, com isso, não conseguimos ter dimensionamento. Mas todos os problemas são ocasionados porque hoje não há mais atenção básica. Estamos trabalhando acima da nossa capacidade, o que tem comprometido o atendimento dos profissionais, quanto a quantidade de insumos”, desabafou a enfermeira.
A diretora do Walfredo Gurgel, Fátima Pinheiro, disse que a UTI Cardiológica continua com apenas seis, dos dez leitos recebendo pacientes. Os médicos se recusam a receber novos pacientes nos quatro leitos, por conta do desabastecimento. Fátima disse que a situação já foi normalizada e que o Hospital conseguiu R$ 450 mil, de uma ordem judicial, que será dada prioridade na compra de medicamentos para a UTI Cardiológica.
Em relação a ausência de médicos no Centro de Recuperação dos Operados (CRO), Fátima disse que em finais de semana e feriados está sem médicos, pois os médicos são da cooperativa e a escala está incompleta. A escala de cirurgiões vasculares também está incompleta, pois quatro, dos 12 médicos pediram demissão e a escala ainda não foi preenchida.
Fonte: Jornal de Hoje