Greve dos médicos deixa Centro de Saúde Reprodutiva sem atendimento há dez meses
Geral
27.02.2013
Uma faixa do Sindicato dos Médicos do RN, em frente ao Centro de Saúde Reprodutiva Professor Leide Morais, no Alecrim, dá a tônica da situação da unidade. “Médicos em greve. O Governo quer destruir a saúde. Nós vamos resistir”. A ‘resistência’ já dura quase dez meses e a greve dos médicos do Estado tem contribuído para aumentar a crise da saúde pública do Estado. A situação do Centro de Saúde Reprodutiva Professor Leide Morais não é diferente e segue caótica.
Há quase dez meses, o atendimento médico à população está suspenso, pois todos os 31 médicos da unidade aderiram à paralisação. Apenas os serviços de enfermagem, nutrição e psicologia estão funcionando. Com isso, dos 600 atendimentos diários que a unidade atendia, hoje estão sendo realizado apenas 20. Além da falta de profissionais, a unidade espera, há mais de seis meses, por uma processadora digital para realizar as mamografias e pelo aparelho de ultrassonografia que foi emprestado ao Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em outubro do ano passado.
Na manhã desta terça-feira (26), uma cena que se repete há quase dez meses: a recepção do setor de prevenção do trato genital inferior, que normalmente é lotada, estava vazia. O consultório médico fechado continua da mesma forma que o médico deixou em abril do ano passado, quando foi realizada a última consulta. O Centro de Saúde Reprodutiva possui 31 médicos, sendo ginecologistas, dermatologistas, mastologistas, radiologistas, sexólogo e urologistas. Todos aderiram ao movimento grevista.
No dia 29 de abril, a greve dos médicos completará um ano. A diretora do Centro de Saúde Reprodutiva, Débora Torquato, disse que, enquanto gestora, está preocupada com a intensidade da greve e os danos que ela vem causando a população assistida pela unidade, que realiza procedimentos de atendimentos especializados e que não são realizados na unidade básica de saúde. “É um descaso geral. Do Governo. Do Sindicato. E até do Ministério Público que ainda não interveio. Ficamos tristes porque ninguém faz nada”.
“Clamo ao Governo do Estado e ao Sindicato dos Médicos que cheguem a um acordo preciso. Que o Ministério Público se manifeste. Nunca presenciei uma greve tão intensa, onde não há uma negociação responsável. Nós que fazemos essa unidade, procuramos sempre acolher a população, oferecendo os nossos serviços de qualidade. Temos uma equipe multidisciplinar competente. Diante dessa greve, estamos alheios, a mercê não sei de quem para colocar essa unidade para funcionar”, desabafou a diretora Débora Torquato.
A diretora lembrou que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado. “É importante que a população possua espaços organizacionais para fazer valer seus direitos, mas é também importante que o Estado, através de suas organizações, seja capaz de produzir, direta ou indiretamente, serviços que respeitem esses direitos. Esses direitos não serão exercidos se os serviços de saúde continuarem incompetentes e mal administrados”, afirmou. Débora Torquato.
O Centro de Saúde Reprodutiva é uma unidade referência no Estado, no entanto, a diretora Débora Torquato criticou o descaso da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap) e da Coordenadoria de Operacionalização de Hospitais e Unidades de Referência do RN (COHUR) com a unidade. “É inadmissível que um secretário de Saúde e uma coordenadora de Hospitais e Unidades de Referência não conheçam as instalações físicas e não saibam como funcionam os serviços prestados à população de um órgão de sua responsabilidade. Enquanto formos geridos pela Sesap é de responsabilidade dela nos manter”, afirmou.
Débora Torquato disse que foi informada por uma médica de que há o interesse do Governo do Estado em municipalizar o serviço prestado pelo Centro de Saúde Reprodutiva, mas que não recebeu nenhum comunicado oficial a respeito dessa possibilidade. “Natal nunca teve condições de assumir o serviço. Agora, me chega a informação de que a coordenadora da COHUR tem telefonado para alguns médicos convidando a participar de uma reunião amanhã na Sesap para tratar dessa questão. Não recebi nenhum comunicado. É lamentável que pessoas como eu e tantas outras que trabalham com amor, dedicação, honestidade e eficiência sejam tratadas com indiferença pela Secretaria Estadual de Saúde Pública”, destacou a diretora.
Em relação aos problemas enfrentados pela unidade, Débora Torquato conta que a Sesap comprou, ano passado, uma processadora analógica, essencial para os exames de mamografia. O problema é que não se usa mais processadora analógica e a diretora possui um relatório da Covisa condenando o equipamento. “É um aparelho que já chegou em desuso. Dá problema direto. Desde junho que estamos nessa luta. Em outubro, durante o Outubro Rosa, consertamos e conseguimos realizar os exames, mas desde então a situação é precária. Temos técnicos, mas não temos a processadora. Então, não temos nada, pois não podemos realizar os exames. Pedimos, há meses, uma processadora digital, mas a Sesap não se pronunciou”, afirmou.
Débora Torquato conta que possui cinco ultrassonografistas na unidade, mas que eles estão parados por dois motivos. O primeiro é a paralisação dos médicos. O segundo é porque desde outubro a unidade está sem o aparelho. “Tínhamos um aparelho de ultrassonografia de alta tecnologia que em outubro foi emprestado para o Walfredo Gurgel enquanto eles solucionavam o problema deles. Até agora estamos sem e não nos dão nenhuma satisfação”, reclamou a diretora do Centro de Saúde Reprodutiva.
A diretora ainda criticou a falta de incentivos dado pelo Governo do Estado aos profissionais, pois segundo Débora Torquato, a produtividade paga aos profissionais do Centro de Saúde Reprodutiva não foi contemplada devidamente, por causa de um teto dado de 25%, enquanto que profissionais que trabalham nos serviços burocráticos da Sesap se beneficiam de um teto de 100%.
“É justo um médico com carga horária de 40 horas semanais receber uma produtividade de R$ 100, enquanto que um nível superior da Sesap recebe R$ 1.000? Falam tanto da lei de responsabilidade fiscal e os benefícios ocorrendo esporadicamente. É uma vergonha. Tem que ter um enquadramento mais flexível e se fazer os alinhamentos necessários, pois desta forma não há incentivo nenhum para os médicos que trabalham no Centro de Saúde Reprodutiva”, desabafou a diretora Débora Torquato.
Reprodução: Jornal de Hoje