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Natal é palco da primeira cirurgia cardíaca transmitida ao vivo em 4k

Geral

28.02.2013

Pela primeira vez, no Brasil, uma cirurgia cardíaca foi transmitida em tempo real na qualidade de imagem 4k. A qualidade supera em quatro vezes o “Full HD” e está sendo testada no país para utilização futura em aulas do curso de Medicina e outras aplicações, como aprimoramento do cinema digital. O pioneirismo e a inovação tiveram participação efetiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que, em parceria com professores e estudantes da Universidade Federal da Paraíba, foram os responsáveis pela captura, transmissão e exibição ao vivo do procedimento médico em uma imagem considerada de altíssima qualidade.
A UFRN é a única universidade pública do país que dispõe de projetores 4k. A tela de mais de dois metros de altura por quatro metros de comprimento, onde a cirurgia foi exibida, está localizada no interior do Núcleo de Pesquisa em Petróleo e Energias Renováveis, no campus central da universidade, mais especificamente no Laboratório de Realidade Virtual. Em parceria com a Petrobras, o equipamento e toda a estrutura de visualização foram adquiridos em 2011 por um valor superior a R$ 2 milhões. A aquisição permitiu que a UFRN hoje esteja na vanguarda de estudos em vídeo digital no Brasil.

O fio de sutura de espessura inferior a 0,3 milímetro era visualizado claramente no “telão”. Da mão do cirurgião protegida por uma luva, o fio era aplicado próximo ao coração que batia exposto. Essa era a imagem da cirurgia cardíaca capturada e exibida em 4k, na manhã de ontem, na UFRN. A equipe de reportagem do NOVO JORNAL acompanhou o procedimento. Cerca de 10 quilômetros separavam o local da cirurgia, no Hospital Onofre Lopes, da sala do Laboratório de Realidade Virtual.

Para especialistas, as imagens vistas na grande tela superavam em qualidade até mesmo a vista de quem acompanhava pessoalmente a cirurgia. O procedimento conduzido foi uma cirurgia cardíaca considerada simples e que não superou 15 minutos de duração. O tórax do paciente exposto passou por uma série de procedimentos de praxe antes que a cirurgia fosse dada por encerrada. Engenheiros, responsáveis pela transmissão, e médicos, que narravam a cirurgia, empolgavam-se com a tecnologia testada com sucesso no local.

A transmissão realizada na UFRN foi considerada o pontapé para o aprimoramento da utilização da qualidade de imagens em aulas de Medicina – um dos vieses da tecnologia de alta resolução. “O fio de sutura das artérias tem 0,3 milímetros. Um terço de um milímetro e ali a gente via perfeitamente o fio. Imagina a qualidade de imagem e a possibilidade que você tem, por exemplo, de transmitir isso e mostrar essa resolução para pessoas que estão aprendendo, sejam profissionais da área ou sejam alunos que estão sendo treinados. Isso não precisa ser só na área médica”, explicou o professor doutor Silvio José Bezerra, da área de matemática aplicada e ligado ao Departamento de Matemática da UFRN.

É Sílvio quem coordena o Laboratório de Realidade Virtual da instituição de ensino. Entusiasta do tema, ele explica o funcionamento da tecnologia 4k: “A tecnologia 4k representa quatro vezes uma televisão Full HD. Esses projetores têm 4.096 x 2.160 pixels. Ou seja, se levarmos em conta uma televisão comum em qualidade Full HD, aqui teremos quatro vezes essa qualidade. O tamanho do pixel nessa tela, que tem quatro metros por dois metros, é praticamente menos que um milímetro quadrado”.

Ele continua. “Do ponto de vista de visualização científica, do ponto de vista de imagens com alta definição, você tem a impressão de fazer parte do evento. Ora, se você tem tecnologia 4k em 3 dimensões, você pode se tornar até mesmo o protagonista da cena”, diz empolgado.

Empolgação da área médica

A atividade experimental realizada ontem na UFRN foi recebida com entusiasmo por representantes da área médica que acompanharam o evento. O primeiro a demonstrar empolgação com a transmissão foi o diretor-geral do Hospital Universitário onde ocorreu a cirurgia, Ricardo Lagreca. “Estamos impressionados com a qualidade de imagem que foi transmitida aqui. Como você deve ter observado, foi uma cirurgia cardíaca feita no Hospital Universitário Onofre Lopes e transmitida para cá em tempo real com uma qualidade excepcional. Não podia ser melhor”, disse ao final da transmissão.

O diretor ressalta o avanço que a tecnologia irá representar em videoconferências para aulas, diagnósticos e segunda opinião médica. “Quando a gente observa transmissão de videoconferência atual é uma diferença enorme. Através disso, você pode fazer aulas, fazer telemedicina, telesaúde”, acrescentou.

Ao seu lado enquanto toma um café na saída do evento está Luiz Ary Messina, coordenador nacional da Rede Universitária de Telemedicina. São 73 núcleos aplicados em hospitais universitários federais, e em alguns estaduais, dedicados ao ensino da profissão. Apesar de destacar a necessidade de aprimoramento em alguns aspectos da captura e recepção da imagem da sala de cirurgia, Messina também demonstra empolgação: “Essa rede já se configura como a maior rede mundial como núcleos de telemedicina. Os estudos em 4k poderá possibilitar uma situação de destaque do Brasil em relação a todo o mundo”.

Messina destaca que, com tamanho avanço tecnológico, ainda não se pode sequer mensurar os efeitos que o 4k poderá ter sobre a Medicina. “Não estamos ainda nem tateando todas as possibilidades que temos com isso. À medida que a gente passa a utilizar essas tecnologias, os próprios médicos vão descobrindo várias aplicações, que vão de ensino à pesquisa e também à segunda opinião, facilitando uma série de ações”, frisou.

 

Cinema quatro vezes melhor

A transmissão na UFRN ocorreu graças à parceria com a UFPB. As instituições se completaram: na instituição potiguar, havia o equipamento de exibição, mas não de captação; na Paraíba, há as câmeras, mas não os projetores 4k. A parceria do LaViD com o Laboratório de Realidade Virtual permitiu avanço das pesquisas em vídeo digital. “A parceria com a Lavid vem somar, porque eles tinham dificuldade em visualização. O laboratório aqui da Universidade é especializado em visualização científica”, esclareceu o professor Silvio Bezerra, da UFRN.

As pesquisas desenvolvidas no Brasil e no mundo permitirão que a tecnologia 4k chegue aos consumidores na próxima década, de acordo com perspectiva de especialistas. Um deles é o professor Guido Lemos, coordenador do Lavid da UFPB. Pesquisador da área de vídeo digital, Lemos atuou durante 10 anos na UFRN antes de se transferir para o estado vizinho.

“Na realidade, esse trabalho que a gente está mostrando hoje [ontem] começou há 15, 20 anos e inclusive aqui na UFRN. Fui professor aqui por 10 anos e começamos a estudar vídeo digital em parceria com a TV Universitária. Começamos a desenvolver ferramentas de vídeo digital e aí entramos na área. Tem toda uma história de desenvolvimento”.

As aplicações do 4k para os consumidores serão primeiramente visíveis no cinema. “A TV sempre anda atrás do cinema. O cinema passando para 4k, a TV vem atrás. Estão sendo desenvolvidas tecnologias de compressão e transmissão e já estão realizando os primeiros testes”, informou. Quanto ao preço, o professor explica: “A expectativa de preço é que ao longo do tempo vá custar o que custa hoje uma TV HD. Isso é o trabalho dos fabricantes. Eles desenvolvem as tecnologias e as primeiras TVs saem em um preço muito alto. Paguei R$ 30 mil por TVs de alta definição nos primeiros projetos de TV digital. Hoje custa 800/1 mil reais. Vai acontecer a mesma coisa”, detalhou.

A diferença no cinema será bastante visível a partir da adesão à qualidade 4k. “O cinema em uma qualidade 4k será quatro vezes melhor do que hoje é mostrado em um cinema digital, como já tem aqui em Natal. Ou seja, você poderia estar assistindo a mesma imagem de hoje em uma tela quatro vezes maior ou em uma tela do mesmo tamanho de qualidade quatro vezes melhor”, explicou o professor.


Entenda a experiência:

1 – Foi a primeira vez que uma cirurgia cardíaca foi transmitida ao vivo na qualidade 4k no Brasil.

2 – O procedimento foi realizado no Hospital Universitário Onofre Lopes e acompanhado em tempo real no Laboratório de Realidade Virtual, no campus da UFRN.

3 – A captura e processamento das imagens foi realizado em parceria com profissionais do Laboratório de Aplicação de Vídeo Digital (LaViD) da UFPB, que vieram a Natal. A visualização ocorreu na UFRN, única universidade pública que dispõe dos equipamentos para visualização de imagens de tamanha qualidade.

4 – A sala de cirurgia do Huol foi preparada para a transmissão de dados. De acordo com a equipe técnica, 15 minutos de vídeo – tempo de duração da cirurgia – representa um arquivo de 3 terabytes. Um terabyte equivale a mais de 1 mil gigabytes.

5 – A experiência representa a capacidade de transmitir e visualizar em tempo real uma imagem considerada de altíssima qualidade. Pesquisadores estudam a utilização de 4k para a área de ensino em Medicina e aprimoramentos da qualidade do cinema digital.
 

Fonte: Novo Jornal