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Em crianças, autismo é mais comum que câncer e AIDS, segundo Organizações das Nações Unidas

Geral

03.04.2013

“Às vezes eu tenho momentos difíceis para entender o que as pessoas dizem. Eu compreendo muito melhor se tiver figuras para me mostrar o que fazer. Eu posso ficar assustado e confuso quando há muitas pessoas ao meu redor. Às vezes eu dou risada ou faço barulhos porque eu estou nervoso, minha mãe sempre me fala que as pessoas podem pensar que isto não é agradável, mas normalmente é muito difícil eu controlar. Eu amo correr e gritar, ou somente me aconchegar em meu almofadão. Estas coisas fazem meu corpo relaxar”. Essas são algumas características que podem descrever os milhares de autistas existentes no Brasil. O autismo é uma síndrome de transtorno de personalidade, que conforme dados das Organizações das Nações Unidas (ONU) chega a atingir aproximadamente dois milhões de brasileiros, sendo mais da metade ainda sem diagnóstico. Manifestado em crianças, o autismo é mais comum que o câncer, a AIDS e o diabetes.

Na manhã desta terça-feira, 2 de abril, quando é comemorado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, dezenas de pais e autistas, vestiram-se de azul, considerada a cor do autismo, e participaram de um ato público em frente à Praça Sete de Setembro, chamando a atenção para a conscientização e inserção dos autistas na sociedade, bem como despertar as autoridades para a gravidade do problema. As associações que trabalham com o autismo no RN acreditam que através da disseminação do conhecimento, busca-se também quebrar preconceitos e barreiras.

Uma das grandes dificuldades da doença é o próprio diagnóstico que ainda é cercado de preconceitos e estereótipos. De acordo com a representante da Associação Brasileira de Autismo no Rio Grande do Norte (ABRA), Helena Fernandes, é preciso que as pessoas saibam como lidar, identificar e conhecer o transtorno. “Muita gente acha que o autista é aquele que fica num canto balançando para frente e para trás, ou decorando lista telefônica. Claro que podem existir estes casos, mas eles são extremos, e entre eles há diversas outras formas de manifestação. E são essas formas que as pessoas precisam identificar. As crianças vão muito cedo para o colégio, e os pais muitas vezes não sabem que elas apresentam o distúrbio. Além dos pais, é preciso também que os pedagogos tenham conhecimento das manifestações. Por isso, a necessidade da conscientização”, destacou.

Helena Fernandes é mãe de uma jovem autista de 30 anos. Cíntia é uma autista clássica, um dos mais severos. Ela não é inclusa, não freqüenta escola, mas freqüenta todos os lugares que os pais. “Minha filha é autista e vai à sociedade”. A representante considera que a luta pelos direitos dos autistas é um trabalho que está apenas começando. “Neste dia tão especial de conscientização que as pessoas vistam azul e que acendam a luz do seu interior para tornar este dia mais belo para essas pessoas. Ainda tem muito que avançar, em todos os aspectos. Primeiro, tirar os pais do luto. As famílias que não conseguem aceitar o filho como autista e deixam os filhos trancados dentro de casa, pensando que isso está colaborando, e não está. Precisamos começar com a família porque ela é a base de tudo. A lei só no papel não resolve, ainda temos muito o que avançar. Agora é que nós começamos a trabalhar. A palavra amar é pequena na sua grafia, mas intensa em sentimentos. Nós temos sensibilidade e atitude e atitude é a palavra chave na história do autismo”, destacou.

Em relação às políticas públicas, Helena Fernandes conta que em dezembro do ano passado foi criada a Lei nº 12.764 que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. “Somente então o autismo foi reconhecido com uma deficiência para todos os efeitos legais. A nova lei assegurou o direito de acesso à saúde, inclusive ao diagnóstico precoce, fundamental para minimizar os comprometimentos causados pelo transtorno. A lei tornou o autista como deficiente. Antes vivíamos no vazio. Hoje temos nossos direitos assegurados”, destacou a representante da ABRA no RN. Também foi garantido o direito à educação inclusiva, nas classes de ensino regular, e ao acompanhante especializado. Contudo, os autistas e seus familiares ainda batalham pela efetivação prática dos direitos, em razão da carência de pessoas e instituições interessadas pelo assunto.

A presidente da Associação de Pais e Amigos dos Autistas do Rio Grande do Norte (APAARN), Fátima Cristina disse que o momento como hoje é importante para chamar a atenção da sociedade e dos governantes para o alto número de crianças autistas no Brasil. “Queremos mais políticas públicas, mais capacitação para profissionais da saúde, de educação, para que possam atender melhor os meninos com aspecto autista”, destacou Cristina que também é mãe de um jovem autista de 27 anos. “Desde pequeno faço tratamento com meu filho e teve um desenvolvimento muito grande”.

Autismo

O autismo é uma desordem global do desenvolvimento, afetando a maneira como esses indivíduos se comportam, comunicam e interagem socialmente. Trata-se de uma questão de saúde pública, de graves proporções. O autismo é definido em pessoas que tem distúrbios de comunicação e/ou interação social, sendo mais comum a manifestação do transtorno definido por alterações presentes antes dos três anos de idade.

Trata-se de uma síndrome complexa e muito mais comum do que se pensa. Atualmente, o número mais aceito no mundo é a estatística do Center of Diseases Control and Prevention (CDC), órgão do governo dos Estados Unidos, que afirma que uma em cada 88 crianças é autista. Trata-se de uma proporção alarmante e crescente: nessa faixa etária, o número de autistas é superior aos casos de síndrome de Down, paralisia cerebral, diabetes, câncer e AIDS, todos juntos e somados.

O autismo faz parte de um grupo de desordens do cérebro chamado de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), também conhecido como Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD). Dentro do chamado espectro autista, há vários níveis, desde casos com sérios comprometimentos sociais, com baixa funcionalidade, até a variação mais “leve”, denominada síndrome de Asperger.

A ciência de modo geral sabe muito pouco sobre o autismo. Em 1943, foi descrito pela primeira vez, e em 1993 foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID 10) da Organização Mundial da Saúde. Atualmente muitas pesquisas ao redor do mundo tentam descobrir causas e intervenções mais eficazes. Hoje, diversos tratamentos podem tornar a qualidade de vida da pessoa com autismo sensivelmente melhor. Tão importante quanto às pesquisas científicas é permitir que os autistas de hoje sejam incluídos na sociedade e tenham mais qualidade de vida e respeito.
Reprodução: Jornal de Hoje