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Direção da Maternidade Januário Cicco quer ‘barrar’ gestantes de baixo risco para evitar superlotação

Geral

17.04.2013

A direção da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC) se reuniu na manhã desta terça-feira (16) com a equipe de saúde da instituição, formada por obstetras, neonatologistas, enfermeiros, e com o Procurador Geral da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para discutir os encaminhamentos a serem apresentados à governadora Rosalba Ciarlini, durante uma reunião que será realizada nesta quarta-feira (17), com a presença da vice-reitora da UFRN, Maria de Fátima Freire de Melo. O encontro buscará soluções para os problemas da superlotação e da falta de assistência materno-infantil no Rio Grande do Norte, especificamente em relação às Unidades de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal improvisadas na maternidade. No fim da manhã, a direção também se reuniu com representantes do Ministério Público Estadual. Os secretários de Saúde do Estado, Luiz Roberto Fonseca, e do Município de Natal, Cipriano Maia, também foram convidados para a reunião de hoje, mas não compareceram.

A situação da Maternidade permanece a mesma desde a semana passada e tende a piorar, caso não seja tomada uma providência. Na UTI Neonatal com capacidade para 20 bebês, na manhã de hoje tinham 22. As duas salas do Centro Cirúrgico Obstétrico continuam interditadas com quatro recém-nascidos em cada uma. O CRO continua sem receber gestantes operadas, pois ainda está com dois recém-nascidos. Diante dessa situação, desde a semana passada o Centro Cirúrgico ginecológico foi transformado em obstétrico e as cirurgias eletivas foram suspensas até a próxima sexta-feira. Ao todo, já foram 45 cirurgias eletivas suspensas no único local que realiza cirurgia ginecológica pelo SUS em Natal. Ontem, até uma sala do novo centro cirúrgico estava sendo ocupada por recém-nascidos.

A situação pode piorar, pois o segundo andar da Maternidade, destinada para as gestações de alto risco, estava lotada de pacientes. Isso é um indício de que os bebês precisarão de leitos de UTI Neonatal. Diante da superlotação, o grande dilema na maternidade é entre o obstetra, pediatria e a equipe de enfermagem. O obstetra precisa realizar o parto, pois senão o bebê pode morrer. O pediatra não tem onde colocar o recém-nascido e a equipe de enfermagem não está preparada para cuidar de bebês prematuros.

O diretor geral da Maternidade, Kleber Morais, considera que a situação de superlotação da instituição está caótica e grave. “Suspendemos a cirurgia eletiva para realizar os partos cesáreos. O Estado e Municípios precisam, urgentemente, viabilizar e aumentar essas vagas, para que a maternidade possa voltar a funcionar dentro do seu padrão, sempre lotada, mas não ao ponto de desativar outros serviços e ter que improvisar uma coisa tão importante que é a UTI, para que essas crianças que estão nascendo não morram. Se não improvisarmos, elas morrem direto. Mas o problema é grande, pois não temos neonatologistas suficientes, o que acarreta uma sobrecarga de trabalho muito grande”, destacou. O diretor pediu que os municípios não encaminhassem nenhuma paciente para a Maternidade nesse período de “ultra superlotação”.

Além disso, Kleber Morais considera que a superlotação tem prejudicado o ensino, que é uma das funções da maternidade. No entanto, o diretor está confiante de que o Governo do Estado possa equacionar o problema ainda esta semana. “Não temos mais respiradores, nem ponto de oxigênio para abrigar esses bebês que porventura venham nascer. É necessário que todos os entes façam a sua parte, cumprindo as suas responsabilidades, pois a Maternidade não pode ser sozinha responsável pela saúde da mulher do Rio Grande do Norte e dos recém-nascidos. Na hora que deixamos de fazer as cirurgias eletivas, que só são realizadas aqui, deixamos de cumprir um papel importante para uma mulher que não está grávida, mas está doente”, explicou o diretor geral da Maternidade.

Em relação à reunião de amanhã com a governadora Rosalba Ciarlini, o diretor da Maternidade espera que sejam dadas soluções concretas, reais, não para médio e longo prazo, mas para hoje. “Precisamos de soluções em curtíssimo prazo. Sei que não está existindo corpo mole de ninguém. Está todo muito imbuído em resolver o problema, mas está faltando articulação. O Conselho Regional de Medicina também estará presente nessa reunião e esperamos que seja feito um pacto de resolução”, destacou Kleber Morais.

Maternidade de Alto risco

A diretora médica da Maternidade, Maria da Guia Medeiros, explicou que a reunião desta manhã serviu também para levar as demandas para a reitora da Universidade, Ângela Paiva Cruz, e ver o que pode ser feito para diminuir a internação na Maternidade, principalmente as gestações de baixo risco. “Como hoje nós somos porta aberta, precisamos saber qual o mecanismo jurídico e legal para dizer que não podemos atender naquele momento, se eu não tenho leito. Existe o princípio da razoabilidade: eu não tenho leito, como posso receber vocês, se você é de baixo risco e pode ir para outro lugar? Então, o Estado precisa dar essa resposta também. A reunião foi de fortalecimento da equipe junto ao Procurador da UFRN que vai levar todas as nossas demandas para a reitora e procurar construir esse documento que respalde a maternidade, pois não podemos continuar com essa porta aberta em todos os momentos”, destacou.

A ideia é transformar a Maternidade Escola Januário Cicco em atendimento de porta aberta, mas referenciado apenas para a gestação de alto risco, que é a especialidade da maternidade. Ficando o baixo risco de responsabilidade das maternidades dos Municípios e dos hospitais regionais. “Queremos que a nossa porta seja apenas referenciada para o alto risco, e para isso, é necessário que a Universidade elabore um documento que endosse isso juridicamente, pois precisamos de um mecanismo para barrar a entrada dessas mulheres. Esse documento vai proteger quem estiver na porta na hora que for necessário dizer um não. Só vamos conseguir tirar as pacientes dos corredores se deixarmos de atender as pacientes de baixo risco”, explicou a diretora.

A diretora médica da MEJC, Maria da Guia Medeiros, conta que na última sexta-feira encaminhou um ofício para o procurador federal Ronaldo Sérgio Chaves Fernandes explicando a situação da maternidade, em relação aos bebês que estavam em leitos de UTI improvisados e solicitando o empenho para que o Governo do Estado pudesse abrir os seis leitos da Polícia Militar. Ontem, o procurador teve um entendimento com o diretor do Hospital da Polícia Militar e, em seguida, fez uma visita as dependências da Maternidade Januário Cicco. Na ocasião, o procurador ouviu o desabafo dos profissionais, principalmente dos pediatras, em relação às precárias condições de trabalho.

“O que ficou acordado é que os seis leitos de UTI Neonatal do Hospital da Policia Militar seriam abertos ainda esta semana e o secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, disse que ia fazer um esforço grande para abrir oitos leitos no Hospital Santa Catarina. No momento, o que temos de concreto é a abertura desses 14 leitos, que irá desafogar a nossa situação de superlotação”, ressaltou a diretora.

A Maternidade conta com 88 leitos de enfermaria para as mulheres, além dos 20 de UTI Neonatal. “Deveríamos ter 88 mulheres internadas e isso já seria no limite, mas chegamos a ter 140 mulheres internadas, além dos recém-nascidos. A equipe é ‘apertada’ para atender as 88 mulheres, imagine o excedente. Uma enfermeira que cuida da UTI Materna não é especialista em atender um bebê de 700 gramas, mas ela está sendo obrigada a sair para atender essa nova demanda. A enfermagem hoje está sendo deslocada para atender uma UTI que foi criada e improvisada nas duas últimas semanas, sem a capacitação para atender o bebê e tudo isso resulta em estresse. Domingo passado, uma pediatra estava ambusando um recém-nascido no próprio colo, porque não tinha nenhuma incubadora desocupado. Era ela fazendo isso e a lágrima caindo. Precisamos que todos os bebês saiam daqui”, explica a diretora.
Reprodução: Jornal de Hoje