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Psiquiatra Flávio Gikovate prega extinção dos termos 'hetero' e 'homo' em sabatina

Geral

30.04.2013

No futuro, haverá uma troca erótica “mais lúdica” entre as pessoas e a identidade sexual do parceiro não fará a menor diferença, quer dizer: definições como “homossexual” e “heterossexual” devem deixar de existir e todos poderão circular livremente entre relacionamentos afetivos com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto.

Essa é a mais nova e controversa ideia de “Sexualidade sem Fronteiras” (MG Editores, 136 págs., R$ 37,40), último livro do psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate, 70. O médico, que calcula já ter atendido mais de 9.000 pessoas em consultório, está acostumado a causar impacto e a fazer sucesso falando sobre sexualidade.

Reflexões sobre os dilemas sexuais e amorosos de seus pacientes são os temas de grande parte de seus 32 livros publicados e das colunas que assinou em jornais e revistas.

Sua estreia como conselheiro na mídia, em 1977, em uma revista para adolescentes, já ligava seu nome a polêmicas, porque seu texto insistia na separação entre sexo e amor. Hoje, é lugar-comum, mas a opinião era potencialmente escandalosa na época, quase 40 anos atrás.

ORIENTAÇÃO SEXUAL

O muro que separa a homossexualidade da heterossexualidade tem que cair. Não há impedimento para a troca de carícias sexuais.
Preconceito é algo todo regulamentado. Na ausência de mulheres, homem transar com homem é ser muito macho. Na presença de mulher, é ser gay. Tudo burocracia.

A orientação sexual vai seguir o encantamento amoroso. Se for orientada pela noção de desejo, será deixada por conta de coisas que têm a ver com agressividade, competição, rivalidade.

SEXO LÚDICO

Sexo lúdico são todas as trocas de carícias eróticas com qualquer tipo de parceiro. Tudo aquilo que as crianças também fazem. Sexo reprodutor é essencialmente heterossexual, está mais comprometido com a agressividade do que com o amor. Do ponto de vista da reprodução, é o macho mais agressivo o que consegue copular.

O erotismo, sem estar ligado à reprodução, é um fenômeno pessoal. Começa no segundo ano de vida: a criança toca certas partes do corpo e sente a estimulação. Como é agradável, ela repete esse padrão de comportamento. A excitação é um prazer positivo, porque não serve para atenuar a sensação de desamparo: não é preciso um desconforto prévio para a pessoa poder curtir o erotismo. Já o desejo é um prazer negativo.

DESEJO

Desejo, especialmente o visual, é uma característica dos homens. As mulheres se excitam, mas desejo é uma coisa ativa, uma vontade de agarrar o outro.

O desejo é de direita, não é de esquerda como se costumava colocar nos anos 1960, quando se acreditava que a liberação da sexualidade fosse trazer um mundo de paz, em que todos se sentiriam confortáveis, as moças não iam regular tanto o sexo.

Elas continuaram regulando do mesmo jeito e tudo ficou um pouco mais tenso por conta da rivalidade entre as mulheres, para ver quem chama mais a atenção, e entre os homens, para ver quem consegue ter acesso às garotas mais interessantes. Trouxe um mundo de competição e tensões muito maiores do que antes. O mundo do desejo ficou comprometido com o do mercado e do capital.

CASUAL E VIRTUAL

O sexo casual não tem futuro, provavelmente vai ser substituído pelo virtual. Esse tipo de prática é infidelidade? Na internet as pessoas podem interagir, ter conversas íntimas com um parceiro determinado, aí o virtual e o real se aproximam. Só porque é virtual o indivíduo casado pode ficar namorando outra pessoa? Não tenho nenhuma simpatia por essas ideias, pelo que chamam de poliamor. E, na verdade, isso tem aceitação muito baixa: ciúme não desaparece por decreto.

AMOR

A sexualidade percorre um caminho que não é o do amor, o que explica tantas más escolhas sentimentais. O sexo, diferentemente do amor, é mais comprometido com a agressividade, e muitos homens acabam escolhendo suas parceiras em função do encantamento erótico.

Reprodução: Folha