Hospital Severino Lopes tem desafio de vencer crise financeira
Geral
07.06.2013
O Hospital Psiquiátrico Professor Severino Lopes, antiga Casa de Saúde Natal, completa este mês de junho, 57 anos de funcionamento no atendimento psicossocial do Rio Grande do Norte com o desafio de equacionar as finanças. O grande problema é que o valor pago pela diária dos pacientes internado pelo SUS é insuficiente para garantir a prestação de serviço de qualidade. Mesmo com as dificuldades, o Hospital se mantém, ao longo de décadas, como referência no atendimento psicossocial. Na manhã desta quinta-feira (6), funcionários, ex-funcionários, pacientes e autoridades participaram de uma solenidade em comemoração ao aniversário da instituição. Na ocasião, houve a inauguração da quadra de esportes e a entrega dos equipamentos de ginástica, que proporcionará mais lazer e qualidade de vida aos pacientes internados.
O diretor administrativo Claudio Lopes, filho do fundador do Hospital, o professor Severino Lopes, disse que os 57 anos de existência significam comemorar “toda a garra dos trabalhadores em prol do deficiente mental e dependente químico”. Para os próximos anos, a meta, segundo Claudio, é melhorar, ainda mais, a estrutura física do Hospital e a qualificação profissional das pessoas que trabalham com os portadores de doenças mentais. “O desafio é enfrentar a diária de R$ 47, que é insignificante, pois nós temos todo um tratamento, uma equipe especializada e preparada para dar esse atendimento. Não temos como fechar essa conta no final do mês”, afirmou o diretor. Ao todo são 240 leitos, sendo 160 destinados ao SUS.
Mesmo como diretor do Hospital, Cláudio Lopes conta que não se sente à frente da instituição. “Eu sinto ele (Severino Lopes) ao meu lado e ele continua sendo o chefe, que nos orienta a prosseguir com essa luta”, afirmou o diretor administrativo do Hospital Psiquiátrico Severino Lopes.
O diretor técnico do Hospital, Edson Gutemberg, ressaltou o papel do fundador do Hospital, o professor Severino Lopes, para a melhoria da qualidade da assistência psicossocial do Rio Grande do Norte. Segundo Edson, o professor trouxe conceitos inovadores, que à época já eram aplicados na Espanha e na Alemanha, para o Estado. Além disso, a instituição também foi, ao longo desses anos, um importante campo de estágio para os estudantes de Medicina.
“Esses 57 anos significam uma longa folha de serviços prestados à comunidade norte-riograndense. Um serviço prestado com muita dedicação e qualidade, principalmente pela determinação do seu fundador, que foi a pessoa determinante para que a instituição sobrevivesse até hoje, apesar de ele já ter falecido há alguns anos”, destacou.
O diretor Edson Gutemberg conta que, há anos, o Hospital Severino Lopes passa por “crises financeiras permanentes”. A principal dificuldade financeira enfrentada pelo Hospital é referente à diária que o Sistema Único de Saúde (SUS) paga pelo paciente internado, para alimentação, medicamentos, lazer e apoio hospitalar. “O Hospital precisa viver numa permanente vigilância entre a relação investimento/dispensa, custo/benefício. Hoje, o hospital comemora 57 anos em meio a uma situação financeira difícil, que vamos levando graças a equipe que trabalha, a determinação e criatividade de Claudio Lopes”, destacou.
O psiquiatra Edson Gutemberg acredita que a solução para recuperar o equilíbrio financeiro do Hospital e equacionar as finanças é o reajuste das diárias para níveis mais condizentes com a realidade, o que segundo ele, seria em torno de R$ 80. “O nosso hospital é de fundamental importância para o Estado, pois ele significa menos pacientes desassistidos, menos pacientes que ficariam nas ruas e menos pacientes no chão à espera de atendimento no Hospital João Machado. Se não existíssemos, a situação da assistência psicossocial seria caótica. O nosso diferencial é a qualidade da equipe, que é reconhecida pelos próprios pacientes e familiares”, ressaltou.
Apesar da crise, o desafio para os próximos anos, segundo Edson Gutemberg, é melhorar a qualidade de atendimento e, se possível, buscar o apoio dos recursos e avanços, tanto de tecnologia, quanto de medicamento, para o paciente que está internado, que são pessoas dependentes do SUS. “Precisamos trazer o melhor para esse paciente. E aliado a isso continuar melhorando a nossa assistência e unir força para destruir essa praga, que é o crack que atinge todas as classes sociais e está dizimando as nossas populações jovens”, destacou o diretor técnico.
A psicóloga Sandra Uchoa destacou as práticas em saúde mental que são realizadas na instituição, que têm o objetivo de recuperar a saúde mental dos usuários e das suas famílias. “Essa é uma instituição que se preocupa com a assistência humanizada, modernizada e integrada do portador de transtorno mental. Nós temos atuações em grupos familiares, com o grupo de teatro, grupo dos pacientes de dependentes químicos. Todas essas ações se caracterizam como resgate e reorganização do modo de pensar dessas pessoas, da relação que elas têm com o seu transtorno e a sociedade. Ao contrário do que as pessoas pensam, os usuários aqui não estão excluídos, nós estamos favorecendo a reintegração, pois o tratamento se constitui em práticas em saúde mental, fundamentado em modelos científicos e contextualizado no individuo”, explicou.
O setor de serviço social desenvolveu uma cartilha de orientação para a família dos pacientes a respeito da complexidade presente no contexto sociofamiliar das pessoas portadoras de transtornos mentais. A cartilha é parte do projeto de intervenção das estagiárias Jadna Kelly e Paula Luísa Vitorino, sob a orientação da assistente social Jacqueline Lopes Campelo da Silva, e traz para reflexão dúvidas e sentimentos, expressados durante as entrevistas com pacientes e familiares do Hospital, bem como retrata as mais frequentes demandas que chegam ao Serviço Social da instituição.
Investimento
O Hospital Severino Lopes tem conseguido, apesar das dificuldades, fazer reformas e ampliações para oferecer uma melhor qualidade na assistência aos pacientes. Parte desses recursos é fruto de uma parceria entre o Hospital e a Caixa Econômica Federal (CEF). O gerente regional da Caixa, José Ricardo Barbosa Gama, disse que o “namoro” já existe há mais de 15 anos.
“Quando visitamos a entidade pela primeira vez vimos uma realidade que muitas vezes as pessoas não enxergam. A Caixa não vem como parceira, mas como obrigação de fazer com que as pessoas que vem para cá se recuperem e voltem para a sociedade como pessoas dignas. Existem linhas de crédito específicas para entidades sem fins lucrativos e vendo essa oportunidade, conseguimos viabilizar os recursos via Caixa Hospitais e proporcionar a redução nas taxas de juros, de modo que tenham um custo financeiro bem menor que o praticado no mercado”, afirmou o gerente regional da Caixa.
Reprodução: Jornal de Hoje