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Geral

19.10.2013

A aposentada Marta de Oliveira, 57, estranhou a demora daquele atendimento, após uma mamografia de rotina, algo a que se submete todo semestre. O contratempo a fez adiar alguns compromissos do dia 15 de agosto de 2013, uma quarta-feira. Foram 30 minutos de espera no ambulatório. Desta vez, porém, o exame trouxe um resultado diferente do esperado: câncer de mama, com um pequeno nódulo instalado no seio direito. “Faltou chão. Pensei que não iria acontecer comigo”, lembra.
O diagnóstico da ex-servidora da Câmara Municipal de Natal foi um dos 536 casos confirmados de câncer de mama no Rio Grande do Norte este ano. Os números são da Liga Norte-Riograndense Contra o Câncer, entidade responsável pelos procedimentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado. No ano passado, esta doença atingiu 862 mulheres, uma média de 2,3 casos confirmados por dia.

A neoplasia da mama é a mais comum para o sexo feminino. No Rio Grande do Norte, para cada cinco diagnósticos de câncer, três são mamários – o segundo mais comum é o do colo do útero. Em 2011, foram 978 diagnósticos positivos para mama. No ano anterior, foram registrados 608 casos.

O início do tratamento foi um período de medo e incerteza para Marta de Oliveira. O primeiro procedimento a que se submeteu foi logo a da retirada do tumor, um nódulo milimétrico, por meio de cirurgia. “Retirei um quadrante da mama direita”, conta.

A partir de novembro, ela deve iniciar os tratamentos complementares, que podem ser a quimioterapia, radioterapia ou mesmo medicamentos que impedem a ação dos hormônios que fazem as células cancerígenas crescerem. “O médico ainda não definiu por que tipo de procedimento deverei passar, mas não tem problema, eu encaro tudo de frente”, diz com confiança.

A fortaleza desta mulher alta, pele morena e cabelos curtos, é a família. “Estou sempre cercada do amor. Meus filhos e meu marido estão sempre comigo. Isso é importante. Lutar sozinha contra o câncer é muito mais difícil”, avalia.

Mesmo antes de receber o diagnóstico, Marta de Oliveira sempre esteve imersa no universo do câncer. Ela é voluntária da Rede Feminina, uma entidade filantrópica que realiza ações de prevenção e de divulgação do diagnóstico deste tipo de neoplasma. O grupo realiza palestras e atividades educativas em unidades de saúde, escolas, igrejas e conselhos comunitários.

A entidade também oferta apoio psicológico e moral às mulheres que se submetem ao tratamento clínico. Os voluntários trabalham nos corredores do Centro Avançado de Oncologia (Cecan), no bairro de Nazaré, Zona Oeste de Natal. “Faço café, converso e dou apoio. Nunca pensei que mudaria de papel”, afirma, referindo-se à condição atual de paciente. Ao todo, o grupo contabiliza 104 integrantes, sendo quatro homens.

Marta faz parte da Rede Feminina desde o início das atividades em Natal em 2008. “Eu sempre quis ser voluntária, acho um serviço muito bonito. Eu vi o medo de tantas mulheres e nunca me passou pela cabeça que aconteceria o mesmo comigo”, revela.

Na quinta-feira passada, a Rede Feminina coordenou uma atividade para orientar moradores do bairro de Pirangi, na Zona Sul de Natal, sobre diagnóstico precoce e exame da mama para. A plateia era formada por 12 mulheres. Marta de Oliveira estava presente e deu seu depoimento, explicando por exemplo detalhes das técnicas do exame do toque, cujo objetivo é procurar por nódulos que podem ser cancerígenos.

EXAMES
O exame é uma forma de verificar possíveis alterações na mama, em especial no mamilo, pequenos nódulos ou erupções na pele. Ela disse que basta a mulher fazer movimentos em espirais ao longo da mama para detectar estes sinais. “Os seios devem ter uma aparência limpa, sem manchas ou caroços”, explica.

Uma das ouvintes era a doméstica Janeide Guedes, 52, que descobriu um tumor no seio esquerdo há 30 dias. Resignada ao depoimento de Marta de Oliveira, Guedes se mostrava áspera e inquieta, segundo ela porque teria de passar por sessões quimioterapia. “Eu quero morrer. Só vim aqui para dizer isso. Fé não me serve mais, eu prefiro ir sem esperança”, disparou, antes de deixar o local.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, o câncer de mama matou 589 mulheres este ano no Rio Grande do Norte. No ano passado, outras 725 também perderam a vida em decorrência da doença, o que corresponde a duas mortes por dia. A taxa de morbidade cresceu 31% nos últimos três anos. Em 2010, por exemplo, foram contabilizados 553 óbitos.
 

Fonte: Novo Jornal