Malhação em jejum vira febre, mas especialistas alertam para os riscos
Geral
18.12.2013
O projeto verão 2014 dos viciados em academia vai além do “combo” dieta e malhação de sempre: inclui de 30 a 40 minutos de exercício feito de barriga vazia –método batizado com a sigla AEJ (aeróbico em jejum).
Popular entre fisiculturistas, que usam a prática para queimar gordura, o AEJ se espalhou entre não atletas, embalado pela divulgação na internet de blogueiros e “celebridades fitness”.
De abril a dezembro deste ano, as buscas pelo termo no Google cresceram 230%. E já há mais de 11 mil fotos com a “hashtag” AEJ no Instagram.
É lá que Rodrigo Purchio, 24, e Roberta Pacheco, 22, apelidados de casal “frango com batata-doce”, espalham a 102 mil seguidores sua rotina de exercícios.
A alcunha, que dá nome a um blog, vem da mania de Rodrigo de comer os dois alimentos juntos –prato-chave de marombeiros porque une uma proteína magra e um carboidrato.
Rodrigo tem 10% de gordura no corpo –homens devem ter até 15%, segundo o fisiologista do exercício Turibio Leite de Barros. “Quero chegar a 5% mantendo os músculos que tenho.”
É aí que o exercício em jejum entra. O AEJ se baseia na ideia de que, graças ao estoque baixo de carboidrato, resultado de uma noite inteira sem comer, o exercício feito antes do café da manhã usaria gordura como fonte principal de energia.
“Teoricamente parece interessante, mas na prática não funciona”, diz Ivan Pacheco, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.
Há poucas pesquisas que sustentam a teoria. Segundo o médico, mesmo em jejum o corpo tem estoques de carboidrato. E o que determina o gasto maior de gordura é a intensidade do exercício.
A receita do AEJ inclui fazer uma atividade moderada, por no máximo 40 minutos. “Exercício de intensidade baixa ou moderada usa mais gordura como fonte de energia mesmo que a pessoa tenha se alimentado”, argumenta Pacheco.
ESCALAR MONTANHA
Rodrigo e a namorada, Roberta, fazem esteira inclinada ou bicicleta ergométrica em jejum. “Sou capaz até de subir montanha sem comer, mas controlo a intensidade de acordo com os batimentos cardíacos”, diz ele.
Se a atividade ficar extenuante, o uso de gordura como fonte de energia diminui e cresce o uso de carboidrato e proteínas, explica o médico do esporte Franz Burini.
O limite entre usar uma ou outra fonte de energia é tênue. Caso o organismo consuma as reservas de açúcar, há risco de hipoglicemia, com sintomas como tontura, suor frio e desmaios, segundo Burini. Em atividades prolongadas, há maior chance de perda de massa magra (músculo).
Reprodução: Folha