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Células de câncer podem rejuvenescer o coração?

Geral

18.08.2015

Câncer de coração

De certa forma, tentar reparar os danos ao coração relacionados à idade e tentar lutar contra o câncer são problemas opostos.

A capacidade das células do coração para regenerar a si mesmas e proliferar, gerando novas células jovens, diminui à medida que envelhecemos. Elas simplesmente perdem desempenho na divisão celular.

As células cancerosas, por outro lado, são muito boas em proliferação. Elas não sabem quando parar, e o resultado do crescimento excessivo é a formação dos tumores.

Isto tudo está muito simplificado, é claro, mas é o modelo básico descrito por Mark Sussman, da Universidade Estadual de San Diego (EUA) para mostrar como o coração, em particular, parece ser resistente ao desenvolvimento de células cancerígenas.

"Quando foi a última vez que você ouviu falar de alguém ter câncer de coração? É algo que praticamente não se ouve," disse Sussman.

Coração soltando fumaça

Isso não é surpreendente do ponto de vista evolutivo. Se as células do coração cometem um erro grave de transcrição durante a divisão celular e seu taque falha depois do último tique, não há como corrigir o problema. Portanto, faz sentido que as células do coração sejam extremamente cuidadosas quando se trata de se reproduzir.

Mas é essa mesma meticulosidade que faz com que as doenças do coração sejam um problema tão difícil de tratar, explica Sussman. Ao longo do tempo, as células se desgastam. A capacidade de se reparar e gerar substitutos novos piora progressivamente. Quando você chega à velhice e começa a experimentar sintomas de doença cardíaca relacionada com a idade, as células cardíacas estão "soltando fumaça" e não são capazes de se dividir corretamente em novas células.

"Há um fio de navalha equilibrando o envelhecimento celular e o risco de câncer," diz o pesquisador.

Célula de câncer para salvar o coração

Mas, e se você pudesse usar a biotecnologia para andar no fio dessa navalha? Talvez seja possível usar as propriedades de proliferação e sobrevivência das células propensas ao câncer para rejuvenescer as células progenitoras cardíacas – um tipo raro de célula-tronco que se replica indefinidamente em novas células cardíacas – e fazê-las se dividir novamente, sem a formação de tumores.

Sussman e seus colaboradores publicaram um artigo no Journal of Biological Chemistry explorando os resultados de uma técnica que consiste em pegar uma enzima, chamada PIM1, conhecida por estar associada com o crescimento e a sobrevivência de determinados tipos de células cancerosas, e fazer com que ela seja sobre-expressa em células progenitoras cardíacas em camundongos.

E funcionou. Em comparação com as cobaias de controle, os camundongos com a enzima PIM1 sobre-expressa viveram mais e apresentaram uma proliferação celular mais forte.

Mas, curiosamente, a forma como o mecanismo funcionou é diferente dependendo de onde na célula o gene foi sobre-expresso. Quando a PIM1 foi sobre-expressa no núcleo da célula progenitora, houve uma crescente proliferação de novas células. Quando o gene foi sobre-expresso em uma região diferente da célula, na mitocôndria, a enzima inibiu os sinais de autodestruição naturais da célula, fazendo-a viver mais tempo.

Células-tronco no coração

A equipe replicou os resultados com células humanas obtidas de pessoas cujos corações falharam e que estão vivendo em um dispositivo de assistência ventricular que bombeia o sangue para elas.

Eles estão agora tentando obter financiamento para fazer testes clínicos em humanos nos quais eles pretendem pegar as células progenitoras cardíacas dos pacientes, modificá-las para sobre-expressar a PIM1 e, em seguida, colocá-las de volta no coração dos pacientes, na esperança de rejuvenescer o tecido e estimular o coração a reparar a si mesmo.

Pode levar algum tempo até que obtenham autorização para isso, contudo, uma vez que é conhecido o risco de desenvolvimento de câncer quando se manipulam células-tronco.

Fonte: Diario da saúde