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Andador infantil: Mocinho ou vilão?

Geral

27.02.2013

Data: 26 fevereiro 2013 – Hora: 17:48 – Por: Gessica Ribeiro
Quando se tem filhos pequenos é comum os pais terem muitas dúvidas relacionadas aos mais diversos assuntos que envolvem a saúde e o crescimento de seus bebês. E devido aos anseios, muitos se utilizam de alguns ‘artifícios’ tentando garantir o pleno desenvolvimento dos pequeninos, mas nem sempre acertam em suas escolhas.

Um exemplo desses artifícios é o andador infantil, também conhecido como ‘andajá’. O equipamento consiste em uma base com rodas que suporta uma armação rígida que apóia um assento com aberturas para as pernas e geralmente possui uma bandeja plástica. Muitos pais recorrem a este equipamento por acreditarem que ele estimula o desenvolvimento e a coordenação motora da criança, além de ser uma espécie de ‘brinquedo’ com o qual o bebê pode se divertir.

Os bebês, até certa idade dependem de outras pessoas para tudo, desde a alimentação até a locomoção, e essa dependência dos pequeninos faz os pais estarem sempre preocupados em ajudá-los e evitar que eles se machuquem. Contudo, recorrer a equipamentos que possam deixar os pequenos mais livres e independentes, pode aumentar ainda mais esse risco.

Colocar um bebê em um andador, por exemplo, é como dar independência demais em uma fase em que a criança ainda não tem a mínima noção de perigo. Um andador infantil pode atingir a velocidade de 1m/s e colocar um bebê de menos de um ano de idade nele, equivale a entregar a chave de um carro a um menino de dez anos.

No entanto, o uso dos andadores divide opiniões de pais, que não sabem se devem usá-los ou não, no momento em que os filhos se preparam para dar os primeiros passos. O assunto também é encarado como polêmico entre especialistas quanto aos seus benefícios e malefícios.

A agente de turismo Liege Mariano utilizou o andador em seu filho, mas dispensou o equipamento por sugestão de amigos e pediatras. “Eu usei por pouco tempo, só enquanto não podia ficar com ele no colo, mas sempre ficava por perto. Parei de colocar meu filho para andar nele depois de algumas falarem que não era bom, que ele poderia ficar com as pernas abertas ou com dificuldade para se equilibrar e caminhar sozinho. Então deixei para lá, mas não percebi nada de bom ou ruim com o uso do andador”, disse Liege Mariano.

Já a dona de casa Gorete de Oliveira é totalmente avessa ao uso do equipamento, pois acredita que é prejudicial ao bebê. “Nunca utilizei com meus filhos, nem quero que meus netos usem, pois acho que é realmente muito prejudicial para a criança. Tenho uma filha fisioterapeuta e ela contra indica o uso do andador para bebês porque prejudica a musculatura. Além disso, eu acho que o andador antecipa algo que é para acontecer naturalmente”, afirmou Gorete.

Desde o ano de 2004 é proibido vender, importar, e até mesmo fazer propaganda de andador infantil no Canadá. Os Estados Unidos também estão tentando a mesma proibição, uma vez que a Academia Americana de Pediatria aponta que a cada mil atendimentos de emergência em crianças com menos de um ano de idade, 10 são por acidentes com andador, todos os anos. Em um terço dos casos, as lesões são graves, geralmente fraturas ou traumas, e podem até levar à morte.

No Brasil, apesar de ainda ser muito popular para bebês de seis a 15 meses, o andador não é recomendado pelos pediatras e a Sociedade Brasileira de Pediatria, que congrega 16 mil profissionais de todo o país, iniciou neste mês uma campanha contra o produto a fim de abolir o uso destes equipamentos.

De acordo com o presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Norte (Sopern), Nivaldo Sereno Júnior, a campanha tem o objetivo de alertar a população quanto aos prejuízos do equipamento. “Queremos fazer com que a comercialização dos andadores seja proibida, mas sabemos que não vai ser fácil, pois no Brasil, há todo um marketing que é muito difícil combater. Quando a Sociedade lançou a campanha em prol da amamentação exclusiva até os seis meses de idade, também foi difícil, devido ao marketing em cima dos leites artificiais, mas tivemos bons resultados e esperamos o mesmo agora. Por isso, vamos começar chamando a atenção da população sobre a ineficácia e os riscos que produto pode levar pra dentro de sua casa. Nosso foco inicial será a conscientização da população com ações que vão acontecer em todo o Brasil”, disse o pediatra.

Um dos motivos mais importantes para a eliminação desses andadores é o grande número de acidentes causados através de seu uso. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, os acidentes mais comuns envolvendo crianças e andadores são fraturas e traumatismos cranianos, geralmente após a criança rolar escada abaixo com o equipamento. Queimaduras e ferimentos cortantes também são registrados, já que o andador possibilita a criança a alcançar alturas mais elevadas e puxar toalhas de mesas, copos e panelas no fogão. Afogamentos também estão na lista, pois há casos de crianças em andadores que caíram em piscinas, banheiras ou baldes, além de envenenamentos, devido ao acesso e fácil alcance a produtos químicos e de uso domiciliar.

Além dos riscos de acidentes, especialistas afirmam que o equipamento é inútil para o desenvolvimento da marcha de bebês e pode também deixar de estimular certos músculos, levando ao atraso dos primeiros passos.

Segundo presidente da Sopern, Nivaldo Sereno Júnior, o andador foi criado para o auxílio de crianças que já tinham atingido a fase de crescimento devida e que ainda não andavam. “O uso indevido desse objeto é prejudicial para a criança, pois o desenvolvimento deve seguir marcos. O bebê deve sentar, se arrastar, ficar em pré com apoio, se equilibrar e depois caminhar. E o uso do andador ultrapassa todas essas fases. Quando interferimos nesse processo, o desenvolvimento não ocorre de forma normal. O andador faz com que os bebês que o utilizam levem mais tempo para ficar de pé e caminhar sem apoio. Além disso, engatinham menos e é provado que o uso do andador interfere no desenvolvimento psicomotor da criança, pois uma vez que a criança anda sem os pés apoiados corretamente no chão, já que o suspensório deixa nas ponta dos pés, há um vicio de postura, que causa hipertrofia ou diminuição a própria musculatura”, afirma Nivaldo Sereno Júnior.

Por serem muito populares, existem diversos mitos acerca do uso, benefícios e malefícios dos andadores, mas o pediatra esclarece alguns deles. “Muitos pais acreditam que o andador vai deixar a criança mais segura dentro de casa, mas na verdade vai deixá-la mais vulnerável. A falsa independência que gera na criança, também é mito, pois a independência é para os pais, que com o andador não se veem obrigado a ficar correndo atrás da criança ou com ela nos braços. A criança necessita de cuidado, atenção e observação especial até os cinco anos de idade, pelo menos”, explica o pediatra.

O profissional orienta que para os pais que não podem dar toda a atenção ou ficar correndo atrás da criança, é indicado usar um cercado com brinquedos adequados para a idade, pois nele a criança vai se arrastar e aprender a ficar em pé se segurado sozinha.

Os fabricantes dos andadores infantis, nas especificações dos produtos, nas próprias embalagens fazem algumas orientações aos consumidores, referente ao uso do produto. Dentre as especificações mais comuns estão o respeito ao peso e a idade indicados e a necessidade de o bebê estar no equipamento sob a supervisão de um adulto. Alguns fabricantes deixam claro que o andador não vai fazer a criança andar, mas auxiliar os pequenos na locomoção e oferecer apoio nos primeiros passos, além de informar que o uso deve ser restrito a uma determinada faixa de idade para não deixar que a criança pule etapas.

Para o pediatra Nivaldo Sereno Júnior, o uso dos andadores é totalmente dispensável, mesmo quando a criança demorar para dar os primeiros passos. “Algumas crianças começam a andar cedo, antes de completar um ano de idade, outras demoram mais um pouco.

Mas isso é normal porque cada criança tem o seu ritmo. Mas se ela chegar a um ano e três meses de idade, sem sinais de que vai dar os primeiros passos, os pais devem ficar atentos, mas não é necessário comprar um andador. O que se deve fazer é procurar orientação médica, pois o próprio especialista irá orientar os pais quanto ao que será necessário para ajudar nessa etapa do desenvolvimento do bebê, e com certeza, a indicação não será o uso do andador”, disse o pediatra.

A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Norte disponibiliza, por meio do endereço eletrônico www.sopern.com.br, diversas informações sobre os cuidados com as crianças e todas as informações da campanha contra o uso do andador estarão na página. Além disso, para ajudar a tirar as dúvidas dos pais acerca de diversos assuntos sobre os cuidados com os pequenos, o link “Conversando com o Pediatra”contém orientações sobre os mais diversos temas, do pré-natal à adolescência, para que os pais não cometam alguns enganos que possam comprometer o crescimento, o desenvolvimento e a saúde dos filhos.

Reprodução: Jornal de Hoje