Ao menos 10% dos que usam o serviço de Saúde no País já sofreram preconceito no atendimento, revela pesquisa
Geral
10.08.2015
Uma pesquisa divulgada pela primeira vez pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) lança luz sobre um problema muitas vezes oculto na rede pública e privada de Saúde do País: o preconceito contra pacientes, prejulgados como pobres e de classe social baixa por médicos e enfermeiros.
Segundo a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), pelo menos 10% do total de usuários do sistema se queixam de que foram vítimas de preconceito.
São aproximadamente 15 milhões de pessoas, o que equivale a quase o total da população de São Paulo (SP). Elas relataram problemas no atendimento em hospitais em razão de algum preconceito.
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Entre os pré-julgamentos mais comuns feitos por médicos e enfermeiros estão a suposta falta de recursos financeiros, a classe social, o tipo de ocupação e o de doença de quem é atendido. Há também relatos, ainda que em menor número, de discriminação em função da cor da pele e da preferência sexual dos pacientes.
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Para formar a Pesquisa Nacional de Saúde, os entrevistadores do IBGE perguntaram aos usuários da rede de Saúde a seguinte questão:
"O(a) Sr (a) já se sentiu discriminado (a) ou tratado (a) pior do que as outras pessoas no serviço de saúde, por algum médico ou outro profissional de saúde por um dos motivos que se seguem?"
As respostas poderiam ser dadas a partir das seguintes razões abaixo, e o entrevistado poderia apontar mais do que uma delas:
a) Falta de dinheiro
b) Classe social
c) Raça/cor
d)Tipo de ocupação
e) Tipo de doença
f) Preferência sexual
g) Religião/crença
h)Sexo
i) Idade
Mais da metade da população acima de 18 anos que já se sentiu discriminada no serviço de saúde respondeu, como principal razão, a falta de dinheiro (53,9%) e a discriminação em razão da classe social (52,5%) que ocupa.
Segundo a PNS, o preconceito no atendimento é percebido com mais força nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde se concentram 13,6% e 13,3%, respectivamente, daqueles 15 milhões que denunciaram alguma discriminação.
De acordo com a pesquisadora do IBGE, Flavia Vinhaes, a PNS é uma pesquisa independente que está sendo divulgada pela primeira vez e, por isso, não é possível avaliar se o preconceito relatado pelos entrevistados apresentou aumento ou diminuiu ao longo do tempo.
Ela também disse ao R7 que o órgão ainda não divulgou os dados referentes à ocupação dos informantes e, portanto, não é possível saber agora que tipo de trabalho está mais sujeito à discriminação no atendimento aos pacientes.
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Flavia Vinhaes afirmou ainda que a pesquisa não pergunta aos entrevistados onde o episódio de preconceito ocorreu, se na rede pública ou privada, e que, por essa razão, não é possível saber onde eles acontecem com mais frequência.
Conforme dados do Conselho Federal de Medicina, trabalham de forma legal no Brasil 408 mil médicos. A entidade disponibiliza uma página para o recebimento de denúncias contra os profissionais com registro válido.
“Racismo institucional”
Ainda que menos relatado que o preconceito pela falta de dinheiro, responsável por 53,9% das reclamações entre os que afirmam já terem sofrido discriminação, o chamado “racismo institucional” já é motivo de polêmica na Câmara dos Deputados. Ele é apontado como causa de preconceito por 12% dos entrevistados.
Em recente audiência pública para debater o assunto, em junho, na subcomissão especial da Câmara que avalia as políticas de assistência social e saúde da população negra no país, a coordenadora-geral da Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde, Maria Esther de Albuquerque Vilela, admitiu que as mulheres negras são menos examinadas do que as brancas. Para ela, essa discriminação pode influenciar no aumento do risco de morte materna de mulheres negras.
O preconceito de cunho racial pode ser traduzido em números. É que, de acordo com o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, os óbitos de negras durante a gravidez e o puerpério (período pós-parto) no Brasil correspondem a 62,8% do total, contra os 35,6% das mulheres brancas mortas por causas obstetrícias.
A coordenadora assinalou que 92% das mortes poderiam ser evitadas, se não houvesse demora no atendimento.
A enfermeira e deputada Carmem Zanotto (PPS-SC) cobra do governo ações para evitar que o preconceito de cor contribua indiretamente para a mortalidade de mulheres negras.
— É inadmissível que isso ocorra. É preciso que tenhamos ações contra este e contra todos os motivos de mal atendimento apontados pela Pesquisa Nacional de Saúde e pelo Relatório Anual Socioeconômico da Mulher, que indicou essa questão da cor de pele como determinante para a qualidade do atendimento recebido pelas mulheres nos hospitais.
Fonte: R7