Atendimento continua suspenso no Sandra Celeste e Maternidade de Felipe Camarão
Geral
30.11.2012
A paralisação dos profissionais da Cooperativa dos Médicos do Rio Grande do Norte (Coopmed-RN) entra pelo nono dia consecutivo e a população ainda segue prejudicada com a falta de atendimento em algumas unidades de saúde. A situação pode complicar ainda mais a partir da próxima semana, pois contrato entre a Prefeitura de Natal e a Cooperativa encerra-se no próximo domingo, dia 2 de dezembro, e não há nenhuma perspectiva de renovação. Apesar de a Prefeitura de Natal ter realizado parte do pagamento, R$ 1,8 milhão, dos R$ 3,6 milhões que deve a Cooperativa dos Médicos referente à prestação de serviços realizados nos meses de setembro e outubro, os profissionais ainda não retomaram, completamente, às escalas de plantão.
É o caso do Pronto Socorro Sandra Celeste, uma das unidades mais prejudicadas com a paralisação. A única unidade de atendimento infantil de Natal segue com os consultórios vazios. Sem os médicos, os demais profissionais, enfermeiros, dentista, nutricionista, técnicos de enfermagem e a parte administrativa estão indo trabalhar, no entanto ficam de braços cruzados.
Um cartaz em frente à unidade indica que o atendimento à população continua suspenso por falta de médicos. Os pediatras suspenderam o atendimento desde o ultimo dia 21 de novembro, e desde então, nenhuma criança foi atendida no único pronto socorro infantil de Natal. Com a paralisação, a unidade deixa de atender uma média de 300 crianças por dia.
O presidente da Cooperativa dos Médicos, Fernando Pinto, havia dito que o retorno dos médicos seria realizado de forma gradual, mas encontra resistência dos profissionais que não querem retornar aos postos de trabalho sem a garantia de pagamento do restante da dívida. “Queremos uma garantia maior da Prefeitura. Aguardamos um documento assinado pelo prefeito Paulinho Freire que nos dê essa garantia. Desta forma, poderemos assegura que os plantões médicos não serão suspensos novamente”, destacou o presidente
A diretora do Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste, Telma Lúcia de Araújo Pereira, reclama que desde que os médicos da Coopmed paralisaram as atividades, a unidade não recebeu nenhuma informação da Secretaria Municipal de Saúde a respeito da suspensão do atendimento.
“Estamos orientando, sem nenhum respaldo, pois não temos nenhum documento para isso, que as mães levem seus filhos para serem atendidos no Hospital Santa Catarina, pois não há, na rede do município, outro local para atender as crianças, a não ser o Pronto Socorro Sandra Celeste. Somos o único atendimento que é porta aberta, e infelizmente a demanda vai sobrecarregar o Hospital Santa Catarina”, afirmou a diretora da unidade. Na última terça-feira, dia 27, a reportagem d’O Jornal de Hoje esteve no Hospital Santa Catarina e verificou que não sobrecarga na demanda já existente.
A diretora do Pronto Socorro Sandra Celeste, Telma Lúcia Araújo, disse que será realizado na noite desta quinta-feira (29), uma reunião com a direção da Cooperativa dos Médicos e com a participação dos profissionais cooperados que trabalham na unidade, para discutir o futuro do atendimento pediátrico no Sandra Celeste, bem como as escalas de plantão para o mês de dezembro. Com a escassez de funcionários pertencente aos quadros do município, relata Telma Lúcia , a escala de plantões do mês de dezembro só está garantida apenas até o dia 13 de dezembro.
São 13 médicos do município, sendo que em dezembro, dois destes entrarão de férias. Caso os médicos não retomem o atendimento até o fim do mês, a partir do dia 1º de dezembro, próximo sábado, a escala estará garantida com pediatras do município.
Telma Lúcia conta que, apesar da divulgação de que a unidade está com o atendimento suspenso, a procura tem sido constante, e que nos casos mais graves, a equipe de enfermagem está pronta para fazer o acolhimento e acionar a ambulância do Samu para fazer a transferência do paciente. “A equipe faz o acolhimento, mas não pode nem medicar o paciente, pois não tem o médico para prescrever”, disse a diretora.
Na Maternidade de Felipe Camarão o cenário se repete. Como a unidade não dispõe de nenhum médico, nem pediatra, nem obstetra do quadro do município, a Maternidade de Felipe Camarão fica refém dos profissionais da Cooperativa. A diretora da Maternidade, Francisca Francinete Nunes, lamentou a paralisação dos médicos e a suspensão do atendimento. Segundo ela, quase 100 mil habitantes ficam desassistidos, pela grande abrangência da Maternidade. A maternidade realiza uma média de 210 partos de baixa complexidade (normal) por mês. Francinete disse que não estão realizando internamento, por falta de médicos, mas as parturientes que chegam a unidade são acolhidas pela equipe de enfermagem e encaminha a Maternidade Januário Cicco.
“A nossa demanda é muito grande e um serviço tão importante como este não pode acabar. Isso é um absurdo e o caos do caos. Nunca vi ao longo da minha vida na saúde pública uma situação tão complicada como esta. Me sinto triste e até chateada quando vejo as pacientes chegarem aqui, com dores, e não podermos atender. Não me conformo com essa situação, mas ficamos de mãos atadas, por não poder fazer nada, mas dentro do possível, estamos fazendo de tudo. É uma falta de respeito com o cidadão”, desabafou a diretora da Maternidade de Felipe Camarão.
Diante do apelo da diretora médica da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), e por recomendação da Secretaria Municipal de Saúde, a Maternidade de Felipe Camarão disponibilizou 14 leitos, sendo 12 de enfermaria e dois da sala de pré-parto, para receber as puérperas da MEJC, como forma de desocupar os corredores da Maternidade. “Disponibilizamos os leitos, mas só transferiram duas pacientes. Não temos problemas com relação a falta de leitos, de alimentação, nem medicamentos. Nosso único problema é a falta de médicos”, afirmou a diretora.
Raiane Pinheiro Dantas, de 17 anos, e Josenilda das Dores da Rocha, de 22 anos, estavam nos corredores da Maternidade Januário Cicco e foram transferidas na tarde de ontem, na mesma ambulância, para a Maternidade de Felipe Camarão. Raiane, que mora em Felipe Camarão, realizou a cesárea na madrugada da segunda para a terça e ficou no corredor a espera de um leito de enfermaria. “É ruim porque eu tive cesárea e tive que ficar no desconforto”, disse.
Josenilda das Dores, que teve o parto normal, não reclamou do desconforto, mas gostou da transferência. “Como meu parto foi normal não sofri tanto, muito embora tenha sido bastante constrangedor e não temos nenhuma privacidade. Aqui é bem mais tranqüilo”, afirmou. Raiane e Josenilda deverão receber a alta médica na tarde de hoje, que será dada por uma médica da Cooperativa, que se sensibilizou e foi a unidade para fazer o atendimento às mães.
Com a paralisação, quatro unidades de saúde de município, o Hospital dos Pescadores, a Maternidade Leide Morais, o Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste e a Maternidade de Felipe Camarão foram os mais prejudicados, pois tiveram o atendimento completamente suspenso.
Fonte: Jornal de Hoje