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BRASIL: REMÉDIO 100% NACIONAL

Geral

23.08.2010

DIÁRIO DE NATAL – 23-08-2010

Secção: Saúde

Por: Márcia Neri

Link:  http://www.diariodenatal.com.br/2010/08/23/saude1_0.php

Publicado no dia 22/08/10

 

REMÉDIO 100% NACIONAL

Cientistas desvendam a cadeia molecular do veneno de abelha e criam antídoto que neutraliza a peçonha


Um século após a descoberta da especificidade dos soros antiofídicos pelo sanitarista Vital Brazil, que são responsáveis por evitar a morte de milhares de vítimas picadas por serpentes nos quatro cantos do planeta, o Brasil continua referência em imunologia. Cientistas brasileiros desenvolveram e produziram o primeiro soro contra veneno de abelhas do mundo. Depois dos testes em voluntários, o produto deve chegar aos hospitais em um ano.
 

O soro, desenvolvido a partir de uma parceria entre o Instituto Butantan, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), poderá salvar pacientes atacados por enxames. Testes feitos em laboratório provaram que o antídoto neutraliza 90% dos danos à saúde causados pelas ferroadas das abelhas africanizadas, espécie mais comum nas Américas. A novidade chegou em um momento importante.

Em todo o Brasil, os casos de ataques (acima de 50 picadas) e de feridos com risco de morte vêm crescendo e já preocupam o Ministério da Saúde. Dados revelamque em 2008 foram registradas 13 mortes decorrentes de acidentes com abelhas. Em 2009, o número saltou para 50. As serpentes, animais peçonhentos que mais matam, fizeram 106 vítimas no ano passado. Ao contrário do que se imagina, a maioria das investidas dos enxames ocorre na zona urbana. Em 63% dos casos notificados, a vítima é do sexo masculino, com idade que varia de 20 a 49 anos.

A bióloga Keity Souza Santos, responsável pela pesquisa, explica que cientistas de todo o mundo perseguiam o desenvolvimento do soro contra o veneno de abelhas há mais de uma década. Segundo ela, a complexidade da substância venenosa produzida pelos insetos voadores exigiu uma investigação detalhada da composição e do mecanismo de ação da peçonha. "O veneno em si é conhecido há muito tempo. O desafio foi identificar todas as proteínas presentes no composto, uma mistura com mais de 100 componentes. A partir daí, foi possível trabalhar para conseguirmos um soro que neutralizasse o máximo de propriedades tóxicas", explica Keity.

Primeiros lotes

O protocolo desenvolvido por Keity – método usado para a obtenção do soro – já está patenteado. Até agora foram produzidos 80 litros do medicamento. Os cientistas trabalham no terceiro lote do antídoto. Os resultados dos testes do produto serão enviados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável por validar as provas em laboratório e autorizar o uso em seres humanos. Isto só ocorre depois de a agência testar três lotes do produto.

O soro

l O veneno da abelha é formado por uma série de compostos e proteínas diferentes, gerando uma mistura complexa de mais de 100 componentes

l Em doses elevadas – de 50 a 200 picadas – o veneno da abelha pode levar a vítima a óbito devido a lesões no fígado, nos rins e no coração

l Até hoje, os casos de envenenamento são socorridos com medicamentos que tratam os sintomas causados pelo excesso de veneno

l Para desenvolver o soro antiveneno de abelha, foi preciso identificar todas as proteínas da secreção venenosa das abelhas africanizadas

l Assim como os soros antiofídicos usados para combater o veneno de sídicos usados para combater o veneno de serpentes, o antídoto foi desenvolvido com base no próprio veneno das abelhas

l O veneno foi injetado em cavalos para que eles desenvolvessem anticorpos, moléculas capazes de neutralizar a substância

l Os anticorpos foram retirados dos animais e uma bateria de testes foram realizados até se chegar à fórmula adequada para ser aplicada em humanos

l O soro é recebidopor via intravenosa e 20 mililitros são suficientes para neutralizar 90% dos efeitos provocados pelas picadas do inseto

l O produto não pode ser usado em pessoas alérgicas ao veneno por desencadear reações

l O soro está pronto e já foi patenteado; o produto será distribuído nos hospitais públicos após a autorização da Anvisa