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Geral

04.03.2013

 

Isaac Ribeiro – Repórter
 
No final do mês de janeiro, três pessoas morreram no hospital Vera Cruz, Campinas (SP), após serem submetidas a exame de ressonância magnética com uso de contraste, composto químico usado para realçar possíveis patologias nos exames com imagem. O fato reacendeu um certo tabu ainda existente com relação a essa substância, embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tenha chegado a nenhuma conclusão sobre o que realmente causou as mortes e especialistas afirmarem serem mínimos os riscos de alguma reação alérgica severa ou até mesmo óbitos. 
De acordo médicos radiologistas, os riscos de reações alérgicas ao gadolínio – base do contraste para ressonância magnética – são de 0,01%. "Não existe na literatura médica nenhum caso de morte por essa substância. Eu, pessoalmente, com a experiência que tenho, não acredito que o gadolínio seja responsável pelas mortes. Mas estamos aguardando a resposta dos estudos. Se isso for confirmado, será o primeiro caso de morte por gadolínio", afirma o médico radiologista Francisco Lopes Neto, presidente  da Sociedade de Radiologia do Rio Grande do Norte.
 
Ele diz trabalhar há 15 anos com o gadolínio em Natal e nunca teve nenhum caso grave nem moderado de reação alérgica entre seus pacientes. 
 
O radiologista Manuel Moreira Neto, do Hospital Universitário Onofre Lopes, também diz não ter tido nenhum problema entre seus pacientes em mais de vinte anos trabalhando com meio de contraste. "Posso dizer que são medicamentos muito seguros. Mas como qualquer medicação que se injeta na veia, existe um risco, por uma reação individual idiossincrásica, da pessoa vir a ter uma reação. Mas é muito raro."
 
Ele esclarece que os contrastes são usados desde a década de 30 e que os primeiros causavam muita reação alérgica e até mesmo casos de óbito por choque anafilático. Mas eles se tornaram bastante seguros com o passar do tempo, tornando o risco bastante raro. "É  comparável, por exemplo, uma pessoa viajar de avião e ele cair. Como existe gente que tem pânico de viajar de avião, tem paciente com temor a contraste."
Existem dois tipos de contraste, como explica Manuel Moreira Neto; os usados intravascularmente, ou seja, injetados na veia, à base de iodo, usados em tomografia e radiologia. E existem os usados em ressonância magnética, também injetados na veia; entre eles, os à base de gadolínio  – "um metal da tabela periódica, uma terra rara, um agente paramagnético que reage com os prótons de hidrogênio dos tecidos, fazendo com que haja um realce nas imagens."
 
O presidente da Sociedade de Radiologia no RN, Francisco Lopes Neto, os contrastes facilitam detectar lesões e oferece pistas diagnósticas sobre o que está sendo observado. "Muitas vezes, quando eu uso o gadolínio, eu defino uma lesão tumoral ou se ela é inflamatória. E se ele é tumoral, consigo dizer se é uma lesão benigna ou maligna."
 
A eliminação da substância pelo organismo não é nada complicada, como explica Francisco Lopes Neto. "A cada noventa minutos, é eliminada metade da droga que está no sangue. Se eu a injeto agora no paciente, uma hora e meia após, metade da droga já foi eliminada pela urina; com mais uma hora e meia, outra metade é eliminada e assim por diante. Depois de 24 horas, praticamente não existe mais droga no organismo."
O medo de ser submetido ao uso de contraste para exames de tomografia ou ressonância magnética pode prejudicar o diagnóstico da patologia investigada. Isso porque o composto químico aumenta a visibilidade dos tecidos e facilita a identificação de possíveis anomalias, como lesões e tumores.  Mas muitas vezes o paciente se nega a ter a substância injetada no organismo. O que fazer?
 
Nesses casos, o radiologista Francisco Lopes Neto diz ser necessário conversar com o paciente e mostrá-lo a necessidade do uso do meio de contraste para se ter um diagnóstico mais preciso e, consequentemente, um tratamento mais rápido e eficaz. Ninguém é forçado a nada, mas em caso de recusa é feita uma observação em laudo médico e comunicado ao especialista solicitante do exame. 
 
"Existe um detalhe muito importante: aquele paciente que chega para realizar o exame muito estressado,  muito emocionado, com muito medo de utilizar o contraste, porque já ouviu histórias de vizinhos e amigos de que alguém teve uma reação grave, essas pessoas estão mais propensas a ter uma reação alérgica do que aquela que chega tranquila, confiante de que vai fazer o exame e não vai acontecer nada", comenta o radiologista. 
 
O procurador aposentado e escritor Manoel Procópio de Moura Júnior, 73 anos, disse ter sentido apenas um calor atravessando o corpo até os membros inferiores – algo que já haviam inclusive comentado com ele. 
 
Autor do livro de crônicas  "Natal de tempos em tempos" diz ter visto nos noticiários o casos das mortes em Campinas (SP), mas não se sentiu totalmente intimidado na hora de se submeter ao contraste. "A gente fica um pouco receoso, porque antes de cada contraste acredito que deveria ser feito um teste para saber se a pessoa tem alergia ou não. E no caso desses contrastes que estão sendo aplicados, nunca vi fazer esse teste. Então, nos traz um pouco de apreensão."
 
O paciente é considerado de risco caso seja alérgico, de acordo com o radiologista Manuel Moreira Neto, do Hospital Universitário Onofre Lopes. Nesse caso, ele diz haver duas opções: não usar o contraste ou fazer uma profilaxia, uma pré-medicação, na véspera do exame, com o uso de corticóides, e histamínicos, no dia do procedimento.
 
O presidente da SRRN, Francisco Lopes Neto, considera muito importante o paciente ter confiança no médico ou , em caso de dúvidas, não dar ouvidos a comentários de leigos. Aquela situação típica de sala de espera ou corredor de hospital, quando os pacientes dividem anseios e receios nos momentos que antecedem exames ou consultas. 
Chega uma pessoa e diz: "Olhe, você tenha cuidado. Eu conheço alguém que fez esse exame e teve uma reação muito grave. Ou então quando a mídia começa a divulgar algum acidente com meio de contraste", comenta o radiologista, ressaltando que nos dias seguintes à divulgação dos óbitos no hospital de Campinas quase todos os pacientes se negaram a usar contraste. Ele esclarece ainda que os compostos usados aqui não são os mesmos do hospital paulista.

Fonte: Tribuna do Norte