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Crise na ortopedia volta a lotar corredores do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel

Geral

26.06.2013

O aumento do número de pacientes vítimas de acidentes de moto e a insuficiente quantidade de hospitais para realizar os procedimentos cirúrgicos ortopédicos eletivos tem agravado ainda mais a situação do maior hospital de urgência e emergência do Rio Grande do Norte, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Com apenas o Hospital Memorial realizando as cirurgias eletivas de alta complexidade e a Clínica Paulo Gurgel, responsável pelas cirurgias de baixa complexidade, apenas de membro superior, os pacientes aguardam, por até três meses, a realização de uma correção cirúrgica, nos corredores ou nas enfermarias do Hospital Walfredo Gurgel.

Na manhã desta terça-feira (25), 47 pacientes estavam internados no hospital a espera de procedimento ortopédico, sendo 22 nos corredores e 25 nas enfermarias. Além disso, havia 37 pacientes no corredor de clínica médica e mais 37 a espera de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A diretora geral do Hospital Walfredo Gurgel, Maria de Fátima Pinheiro explicou que apenas o Hospital Memorial está sendo responsável por receber pacientes referenciados dos Hospitais Walfredo Gurgel, em Natal, Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim, e Tarcísio Maia, em Mossoró. “Só o Memorial para dar retaguarda às cirurgias de alta complexidade do Estado inteiro, faz com que fiquemos nessa situação”, explicou. A diretora reconhece que, em virtude dessa situação, o tempo de permanência dos pacientes ortopédicos no hospital é bem maior do que os pacientes clínicos e de outros traumas, que não envolve ortopedia, cuja rotatividade é bem maior.

“A solução para resolver esse problema passaria pelo município abrir as UPAs, hospitais de retaguarda, já que Natal é a única capital do país que não tem um hospital e o resultado disso é que o Walfredo Gurgel fica responsável por toda a demanda do Estado e do município de Natal. Isso sobrecarrega os hospitais e os profissionais trabalham no limite, pois a demanda é muito grande. É impossível não se angustiar, pois contamos com a ajuda dos profissionais que fazem a unidade, para não naufragarmos novamente, já que estamos submersos”, considera a diretora do Walfredo Gurgel.

Fátima Pinheiro disse que 50% dos pacientes de clinica médica são oriundos de Natal, de média e baixa complexidade, que poderiam estar nas Unidades Mistas de Saúde e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), bem como casos de ortopedia, de baixa complexidade, como a fratura fechada, que não deveriam ser atendidos no Walfredo Gurgel. “As fraturas abertas complexas viriam para o Walfredo, mas o município deveria ter um local para receber os pacientes de fratura fechada, para dar a retaguarda”, destacou.

A diretora disse que estuda, junto com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), a possibilidade de os pacientes politraumatizados, aquele que envolve fratura na cabeça, tronco e membros, sejam atendidos e feitos todas as cirurgias necessárias no Hospital Walfredo Gurgel. “Vamos conversar com os ortopedistas e com o secretário de saúde [Luiz Roberto Fonseca] para que esse paciente não seja transferido, mas agora as outras fraturas nem entrar nessa porta”, explicou Fátima Pinheiro.

Hoje, os pacientes de ortopedia de membro superior, de baixa complexidade, pegam a guia do ortopedista, passam na Unidade de Gerenciamento de Vagas (UGV), onde são encaminhados para o Hospital Memorial ou para a Clínica Paulo Gurgel. Os ortopedistas dos hospitais avaliam os casos, agendam a cirurgia e o paciente aguarda em casa a cirurgia já agendada.

Assim como Secretaria de Saúde anunciou o fechamento da porta de entrada dos Hospitais Giselda Trigueiro e Santa Catarina, a diretora espera que o Hospital Walfredo Gurgel também possa fechar a porta de entrada para receber apenas pacientes dentro do perfil do Hospital. “Abrindo a UPA de Cidade da Esperança, de Parnamirim, as unidades de saúde funcionando e o município fazendo a sua parte, o Hospital Walfredo Gurgel também poderá fechar a porta e trabalhar dentro do perfil, que é trauma e AVC. Nós já estamos com a classificação de risco e estamos encaminhando para o Hospital dos Pescadores, para Mãe Luiza e para Cidade Satélite. Quando se regula uma porta, pode ter reflexo em outra”, considera a diretora Fátima Pinheiro.

Três meses de espera

No quarto andar do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, as histórias dos pacientes se assemelham quando o assunto é o tempo de espera por uma correção cirúrgica. A espera chega até três meses. É o caso do guia de turismo, Eudes Henrique, de 23 anos. Ele sofreu um acidente de moto no mês de março. Ao tentar desviar de um carro, a moto de Eudes bateu em outro carro e ele caiu. Na queda, teve uma fratura exposta no braço, que quebrou em três lugares. Ele conta que o único procedimento que fizeram foi uma cirurgia assim que deu entrada no Hospital e ainda espera por uma correção cirúrgica há mais de três meses.

“Não me dão previsão nenhuma. Fico agonizando aqui há mais de três meses e ninguém faz nada. Enquanto isso, eu fico sem trabalhar e cada dia piora ainda mais a situação do meu braço. Tenho medo de ter seqüelas e pegar uma infecção e não sair nunca mais desse hospital. Como a minha primeira cirurgia cicatrizou, o médico disse que o meu caso era mais complicado”, disse Eudes Henrique.

Diogo Pinho Souza mora no município de Guamaré. Há 17 dias ele sofreu um acidente de moto e quebrou o braço em dois locais. Ele foi submetido a uma cirurgia na barriga, em virtude de uma hemorragia interna, e recebeu alta médica ontem. Agora, ele espera pela cirurgia ortopédica que não tem previsão para ser realizada.

Clenilson da Silva, de 22 anos, também sofreu um acidente de moto e quebrou o braço em dois locais. Há 20 dias internado no Hospital, Clenilson teme que a demora em realizar a cirurgia possa trazer seqüelas. “Estamos vivendo em um estado de calamidade e ninguém faz nada. Queremos ir para o Hospital Memorial, mas ninguém garante a transferência, só nos manda esperar e mais nada. E ficamos nesse incômodo, sem trabalhar, e na dependência da boa vontade dos outros. Quanto mais eu demorar em fazer a cirurgia pode complicar mais ainda a minha recuperação”, afirmou.

O aposentado José Ângelo Bezerra, de 66 anos, vai completar um mês internado no Walfredo Gurgel no próximo dia 29. Ele quebrou o braço quando vinha de São José de Mipibu para Parnamirim com o braço do lado de fora do alternativo e foi acertado por um carro, que esmagou o seu braço. Com o acidente, José Ângelo teve uma fratura exposta no braço esquerdo, que foi quebrado em três locais. Antes de fazer a cirurgia, ele aguarda uma raspagem, que depois de ser adiada três vezes, está marcada para hoje. Depois da raspagem é que a cirurgia poderá ser realizada.

“É horrível ter que ficar aqui sem nenhuma perspectiva de quando eu vou realizar a minha cirurgia. É um trauma, estou perdendo peso, pois a comida vem, mas não tenho vontade alguma de comer neste lugar. Um dia aqui é como se fosse uma eternidade”, desabafou o aposentado. Ele conta que procurou saber o valor da cirurgia, caso fosse feita particular. “O médico disse que seria em torno de R$ 15 mil, mas não tenho condições nenhuma, pois o dinheiro que temos está dando apenas para comprar os medicamentos”, afirmou José Ângelo Bezerra.

Fonte: Jornal de Hoje