Ex-colegas criticam Nicolelis
Geral
27.02.2013
Às vésperas da publicação de mais uma pesquisa de ponta na área da neurociência, o brasileiro Miguel Nicolelis enfrenta uma nova polêmica. No final de semana, sete ex-membros do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) divulgaram carta na qual acusam o pesquisador de omitir informações sobre suas pesquisas na Universidade Duke, nos Estados Unidos, e de agir "exclusivamente em proveito próprio" na condução do instituto brasileiro. Segundo os autores, Nicolelis teria mantido segredo sobre um projeto de pesquisa na Duke e publicado os resultados de forma isolada, mesmo sabendo que um de seus supostos parceiros no INCT estava desenvolvendo um projeto muito semelhante na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A carta, intitulada "Eu apoio a ciência brasileira", foi enviada por e-mail a dezenas de lideranças científicas do País na sexta-feira e, no sábado, reproduzida no blog da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC). Na segunda-feira, o diretor científico do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), Rômulo Fuentes, publicou duas respostas no blog: uma em inglês, em nome de Eric Thomson, aluno de pós-doutorado de Nicolelis na Duke, e outra em nome próprio, na qual refuta o conteúdo da carta e contra-ataca com uma série de acusações aos seus autores. De início, Nicolelis não comentou a carta publicamente, mas declarou apoio às respostas postadas por Fuentes e Thomson. O debate se propagou pelas redes sociais, abrindo mais um capítulo na conturbada relação dele com vários setores da comunidade científica brasileira. Ontem, Nicolelis usou seu perfil no twitter para fazer uma série de observações sobre a denúncia, que considera "primária, leviana e irresponsável". "Cientistas brasileiros sérios e competentes vão ler esse manifesto e se envergonhar de todos que o assinaram. O tempo vai dizer". Em outras mensagens, ele disse: "Eu só estou esperando a publicação de dois trabalhos, amanhã e quinta. Mas tem gente no Brasil que não aguenta ver isso." E acrescentou: "Em 48 horas, a imprensa mundial vai estar falando de mais um estudo inovador nosso que contou com a participação clara do IINNELS!" Para Nicolelis, o "ataque reflete o que há de pior na academia brasileira. Sucesso alheio tem que ser difamado, denegrido, jogado no lixo porque cria Contraste." Fuentes atribui as críticas a um complô liderado pelo neurocientista Sidarta Ribeiro, que estaria "totalmente obcecado com a ideia de assassinar a reputação do prof. Nicolelis". Sidarta, um dos fundadores do IINNELS, rompeu com Nicolelis em agosto de 2011 e se transferiu para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sacramentando um "racha" que esvaziou quase que completamente o quadro de pesquisadores e alunos do instituto. ? Com informações da Agência Estado. Publicação na "Nature" foi estopim para movimento A carta é assinada por sete ex-integrantes do Comitê Gestor do INCT Interface Cérebro-Máquina (Incemaq), criado em 2009, sob a coordenação de Nicolelis. A sede do projeto é o IINNELS, em Natal, instituto gerido por uma organização social de interesse público, também presidida por Nicolelis. O "estopim" para a elaboração da carta foi a publicação de um trabalho na revista Nature Communications, no dia 12, em que Nicolelis apresenta os resultados de um experimento que ele diz ter criado um "sexto sentido" em ratos, dando a eles a capacidade de "sentir" sinais de luz infravermelha, captados por um receptor conectado por eletrodos ao seu cérebro. O trabalho é coassinado por Thomson e um aluno de graduação da USP, que fez intercâmbio na Duke. A carta chama atenção para o fato de que um de seus autores, Marcio Moraes, do Núcleo de Neurociências da UFMG, tem um projeto muito parecido com o que foi publicado por Nicolelis. Esse projeto foi apresentado na primeira reunião do Comitê Gestor do Incemaq, em julho de 2010, com a presença de Nicolelis – que não teria feito nenhuma menção ao seu próprio projeto na Duke. "Se o trabalho já estava sendo feito na Duke (…), por que manter segredo durante a reunião? Se, por outro lado, o trabalho ainda não havia sido iniciado, mas Miguel Nicolelis considerou a ideia interessante, por que não firmou colaboração com o grupo da UFMG?", questiona a carta. "Foi uma postura inaceitável da parte do coordenador de um INCT, cujo objetivo principal é justamente promover parcerias estratégicas entre cientistas e instituições para acelerar a produção de pesquisas inovadoras no Brasil", disse Moraes. Nicolelis e Rômulo Fuentes, por outro lado, divulgaram cópias de e-mails trocados entre pesquisadores da Duke desde 2006, em que a ideia de acoplar sensores de infravermelho a cérebros de ratos já era discutida.