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Gestantes e profissionais sofrem com superlotação e calor no Hospital Santa Catarina

Geral

10.04.2013

O Centro Obstétrico do Hospital Doutor José Pedro Bezerra, conhecido como Hospital Santa Catarina, localizado na zona Norte de Natal, está superlotado de pacientes, em sua maioria de municípios do interior do Estado. A unidade, que junto com a Maternidade Escola Januário Cicco, é referência estadual no atendimento de gestação de alto risco no Rio Grande do Norte, também sofre com a falta de macas, profissionais e com o forte calor, uma vez que todos os aparelhos de ar condicionado do setor estão sem funcionar. Pelos corredores, é comum encontrar gestantes à espera do parto, em macas e em cadeiras. Na manhã desta terça-feira (9), o corredor da recepção do Centro Obstétrico estava vazio, mas aproximadamente dez mulheres esperavam para ganhar os bebês. As três salas de parto estavam ocupadas com puérperas – as mulheres que já tiveram os bebês – por falta de leito de enfermaria e o próximo parto seria realizado na mesa de exames.

Apesar da constante lotação, a principal reclamação dos profissionais que trabalham no setor de obstetrícia, bem como das pacientes internadas, é referente ao calor. Os aparelhos de ar condicionado de todos os setores estão quebrados há bastante tempo e os médicos tem que realizar os partos em meio ao calor e suor. Fato que tem gerado grande insatisfação na classe médica. Hoje pela manhã, os obstetras Walkíria Caldas, Ildeberto Evangelista, Rosana Navarro e Clemira Araújo conversaram com a reportagem d’O Jornal de Hoje e relataram as condições de trabalho da unidade. As duas salas de pré-parto, com capacidade para 12 leitos, hoje pela manhã, abrigava 23 puérperas, pois não havia vaga nas enfermarias, que já estavam lotadas. Das cinco salas de parto, apenas três estavam funcionando e mesmo assim estavam ocupadas com mulheres que tinham tido bebê já hoje.

“A superlotação já é uma situação crônica que vem se repetindo e aumentando a cada dia e tem estourado nos últimos dias. No centro cirúrgico, formam-se filas de macas de pacientes. Médicos têm suficiente para fazer as cirurgias, o que falta é espaço”, destacou o obstetra Ildeberto Evangelista. O Centro Cirúrgico conta com quatro salas, mas apenas duas está funcionando: uma para a obstetrícia e outra para as urgências de clínica médica e trauma.

Para a médica Rosana Navarro, o grande problema é que, como não há classificação de risco, todas as pacientes são atendidas, em sua maioria pacientes de baixa complexidade. “Esses partos não deveriam ser realizados aqui e terminam que essas pacientes de parto normal ocupando os leitos de uma paciente de alto risco que quando chega, às vezes, é obrigada a ficar, com pressão alta, nos corredores, em macas ou cadeiras. Nesse calor, o risco da gravidez que já é alto aumenta ainda mais nessas condições”.

Para a obstetra Walkíria Caldas, a superlotação, infelizmente, já faz parte da rotina do Hospital Santa Catarina, mas o que tem elevado o nível de estresse dos profissionais é o calor. “Está cada vez mais impossível trabalhar nessas condições. Isso aqui é uma guerra civil. Esse calor é o que mais está nos maltratando. Com essas condições estamos desmotivados e cada vez mais estressados. Somos diariamente torturados psicologicamente. As condições de trabalho são péssimas e as pessoas já conhecem, pois as gestantes já chegam aqui aterrorizadas”, destacou a obstetra que realizou um parto na manhã de hoje e saiu da sala ‘pingando’ de suor, como ela mesma relatou.

A médica Clemira Araújo disse que a situação da Neonatologia também é complicada. “As crianças que nascem em condições gravíssimas e que necessitariam de um leito de UTI ficam esperando na sala de parto, onde não há a menor condição, pois todos os leitos estão ocupados constantemente. Isto tem aumentado consideravelmente o risco de morte das crianças”, destacou.

Direção tenta resolver os problemas

A diretora geral do Hospital Santa Catarina, Maria da Guia de Araújo Silva, explicou que o Centro Obstétrico realiza uma média de 500 partos por mês, sendo que destes 300 são de pacientes do interior, além de cerca de 15 partos cesáreos por dia. Os municípios de Ceará Mirim, Extremoz, Macaíba e São Gonçalo do Amarante são os campeões em encaminharem pacientes para o hospital. “O nosso problema não é Natal, pois mesmo com todas as maternidades do Município funcionando, ainda estamos superlotadas. Precisamos que os municípios do interior atendam as pacientes de baixa complexidade e encaminhem apenas as pacientes de gravidez de alto risco”, ressaltou a diretora.

Maria da Guia de Araújo conta que o secretário Estadual de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, esteve ontem na unidade e conheceu a realidade do Hospital. “Esta reunião já estava agendada desde a semana passada, mas ele aproveitou e visitou as dependências. Aproveitamos e entregamos a ele a estatística de partos realizados por mês, que também encaminhamos para o Ministério Público, para que possam cobrar aos prefeitos para fazer o que é de competência deles e para que a curto e médio prazo possamos solucionar o problema. Para resolver esse problema é necessário que os municípios façam a sua parte e não mandem mais pacientes para cá”, destacou a diretora.

A diretora conta ainda que quando terminar a reforma da UTI, prevista para ser concluída no mês de junho, duas salas que hoje funcionam como o ambulatório e a observação clínica do Pronto Socorro Infantil vão devolver o espaço para o setor de obstetrícia e funcionará como observação para gestantes de alto risco, com 12 leitos. Em relação aos aparelhos de ar condicionado, hoje pela manhã uma equipe de manutenção estava no local para solucionar o problema. Além disso, uma equipe de técnicos da Sesap também estiveram no hospital para verificar as deficiências e tomar as devidas providências.

Em relação à situação neonatal, Maria da Guia de Araújo conta que hoje a unidade conta com 18 leitos de UTI Neonatal e sete de UCI, que é a unidade intermediária. “Sabemos que esse número é insuficiente, pois a demanda é muito grande. Na quarta-feira da próxima semana teremos uma reunião na Sesap que tratará da reestruturação do serviço de pediatria do RN e deveremos ampliar para 30 leitos de UTI e 15 de UCI. Hoje, o estado tem uma duplicidade de serviço na zona Norte, pois tanto o Santa Catarina quanto o Maria Alice Fernandes realizam atendimento pediátrico e neonatologista”, explicou.

Pacientes agonizam em meio ao calor

O parto é o momento mais esperado durante a gravidez. No entanto, as mulheres que estão sendo atendidas no Hospital Santa Catarina não estão tendo boas recordações de um momento tão sonhado. A superlotação tem obrigado as pacientes a passarem horas esperando a hora do parto em macas e cadeiras, o que traz ainda mais desconforto para uma hora naturalmente de dor. Para algumas, o Hospital Santa Catarina, apesar das deficiências, é a única opção, uma vez que os municípios de origem não prestam assistência materno-infantil.

É o caso de Aroldina Gonçalves de Oliveira, de 38 anos, grávida do segundo filho. Ela mora no município de Macaíba, que conta com um hospital que deveria realizar o parto normal, mas está fechado para reforma desde o ano passado. Ela conta que chegou a ir para o município de São Gonçalo do Amarante, mas como não há pactuação com Macaíba, foi encaminhada para o Hospital Santa Catarina. “Essa é uma situação péssima. Jamais pensei passar por uma situação dessa em um momento tão importante da minha vida. Além da peregrinação para poder dar a luz, quando chego aqui tenho que aguentar esse forno. O calor está insuportável e só agrava ainda mais o nosso quadro”, desabafou.

Liliane Santos, de 23 anos, mora no município de Ceará-Mirim. Ela conta que ficou internada durante cinco dias no hospital municipal e foi encaminhada para realizar o parto normal em Natal. “Quando cheguei aqui fiquei numa cadeira, morrendo de dor, pois não tinha nenhuma maca. Depois de muito tempo conseguiram uma maca, mas o problema do calor é insuportável. O bebê fica aqui nesse forno e acho que não é bom para a saúde dele. Se incomoda a gente, quem dirá a uma criança”, disse Liliane. Para amenizar o calor, Liliane que está uma sala de pré-parto, mesmo depois de ter ganhado o bebê trouxe um ventilador.

Mirlene Costa está no oitavo mês de gestação e está em observação na sala de pré-parto. Ela reclama que além do calor, a falta de limpeza nos banheiros é outro problema que tem incomodado, isto porque os terceirizados que fazem a higienização do Hospital, da SAFE, estão com as atividades paralisadas por falta de pagamento. “Quando cheguei aqui tinha 11 mulheres em cadeiras no corredor.

Logo me assustei, mas estou mantendo o meu espírito orando para que Deus possa me dar suporte espiritual, pois se for atentar para o que está ao meu redor verei o caos. Ainda que os médicos quisessem fazer alguma coisa para melhorar a situação, e eles se esforçam e dão o máximo de si, a situação vai além das possibilidades deles. Eles são heróis, pois ninguém merece trabalhar nessas condições”, destacou.

Anália Ingrid, de 21 anos, também mora em Ceará-Mirim e desde domingo estava no Hospital Santa Catarina esperando para ganhar o bebê. Ela realizou o parto na manhã de hoje, por volta das 5h20, e, até as 10h30, ela ainda estava na sala onde foi realizado o parto com o recém-nascido. “Esperava estar numa sala mais confortável, onde eu pudesse aproveitar melhor meu filho, mas a situação é muito triste e esse calor aumenta ainda mais a nossa aflição e tristeza”, destacou.

Reprodução: Jornal de Hoje