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Médicos da Cooperativa cruzam os braços pela terceira vez este ano

Geral

04.12.2012

Pela terceira vez, apenas este ano, os profissionais da Cooperativa dos Médicos do Rio Grande do Norte (Coopmed/RN) suspenderam o atendimento na rede municipal de saúde. Desta vez, a suspensão atinge os serviços de plantões em 18 unidades de saúde do município de Natal e os serviços de alta e média complexidade prestados em hospitais privados conveniados ao SUS. O que levou os médicos cooperados a suspender, novamente, os serviços prestados, foi o término do contrato entre a Coopmed e o Município que se encerrou neste domingo (2) e segue sem perspectiva de renovação. Enquanto isso, os médicos ainda aguardam o repasse do pagamento referente aos serviços prestados nos meses de setembro, outubro e novembro. Apenas na alta e média complexidade são cerca de três mil procedimentos por mês que estão suspensos.

De acordo com o presidente da Coopmed, Fernando Pinto, na última quinta-feira, dia 29 de novembro, a Prefeitura realizou o pagamento parcial referente ao mês de setembro e disse que a previsão para o pagamento de outubro está previsto para ocorrer somente na segunda quinzena de dezembro, sem previsão para o pagamento de novembro. A Prefeitura deveria ter repassado R$ 1,8 milhão, referente a setembro, mas o repasse foi de R$ 1,4 milhão. “Além disso, disseram que a previsibilidade para o pagamento de outubro é entre 20 e 28 de dezembro e sequer mencionaram novembro, que venceu recentemente. Assim é difícil que os profissionais continuem trabalhando, por isso os serviços estão suspensos”, disse Fernando Pinto.

Fernando Pinto informou que o contrato com a Prefeitura terminou no início de dezembro e que não houve a discussão sobre a renovação do vínculo. “O contrato se extinguiu ontem, mas desde outubro do ano passado que vínhamos discutindo a renovação deste contrato. Hoje soubemos que ele está pronto, mas a condição para assinatura do contrato é a quitação dos débitos anteriores”, disse o presidente. Segundo ele, até a próxima quinta-feira (6), a paralisação está mantida, quando será realizada uma nova assembleia com os médicos cooperados.

Como condição para retomarem o trabalho, os médicos querem, além de renovação e contrato em novos termos, o pagamento dos repasses atrasados. Com a paralisação dos serviços prestados à Prefeitura, 700 profissionais cruzaram os braços, sendo 500 que cumprem plantões em 18 unidades de saúde e 200 que atuam em oito hospitais privados conveniados ao SUS e realizam atendimentos na área de alta e média complexidade. O Hospital dos Pescadores, a Unidade Mista de Mãe Luiza e a Maternidade das Quintas são as unidades mais prejudicadas.

O único hospital de responsabilidade do município de Natal, o Hospital dos Pescadores, no bairro das Rocas, não está recebendo nenhum paciente, por falta de médicos. Na manhã desta segunda-feira (3), 11 pacientes estavam internados na unidade e apenas um médico, que faz parte do quadro do Município, estava na unidade para fazer o acompanhamento dos pacientes que estão internados. De acordo com a diretora do hospital, Francinete de Medeiros, a internação foi suspensa, pois não há médicos para internar. No entanto, toda a equipe de enfermagem, recepção e a parte administrativa da unidade “estão prontas para trabalhar”.

“Até ontem (domingo) à noite tínhamos médicos da cooperativa. Hoje é o primeiro dia que não há médico e que o atendimento foi suspenso. Não chegamos a parar nenhum dia, apenas reduzimos os atendimentos a apenas urgências e emergências”, explicou Francinete de Medeiros. São três médicos da cooperativa em cada plantão diurno e noturno. Do quadro do Município, há apenas dois médicos que dão plantões, além de sete que são prescritores e visitam os pacientes que já estão internados. Por dia, o Hospital dos Pescadores realiza uma média de 300 atendimentos, sendo que 40% destes são ambulatoriais.

Três unidades do Município estão totalmente paralisadas

Para Francinete de Medeiros, a expectativa é que o Município resolva a pendência com a Cooperativa e que os médicos retornem ao trabalho para poderem voltar a oferecer o serviço à população, “pois uma unidade desta fechada é um grande prejuízo a população”.
Na Maternidade de Felipe Camarão, zona Oeste de Natal, a situação é mais crítica. Desde o dia 21 de novembro que a maternidade não realiza nenhum parto. Durante esse período a equipe de enfermagem realizou apenas o acolhimento e encaminhou as parturientes para outras unidades, com exceção daquelas que chegarem em período expulsivo. Hoje pela manhã quem procurou atendimento foi encaminhada para a Maternidade das Quintas.

A diretora da Maternidade, Francinete Nunes, disse que o problema da suspensão do atendimento se deve pelo fato de hoje a unidade não dispor de nenhum médico do quadro do Município. “A Secretaria transferiu todos os médicos do Município para o Leide Morais e para a Maternidade das Quintas e ficamos apenas com os cooperados. Fecharam o Pronto Socorro e ao transferirem os obstetras daqui para outra unidades queriam fazer a mesma coisa, mas a comunidade não deixou. Sugeri a secretária que deixasse alguns médicos aqui para garantir o atendimento, mas a proposta foi recusada”, desabafou a diretora. Hoje, a Maternidade de Felipe Camarão dispõe de 12 leitos de enfermaria e dois leitos na sala de pré-parto, que se encontram vazios.

Na Unidade Mista de Saúde de Mãe Luiza, zona Leste de Natal, o pronto socorro está com o atendimento completamente paralisado. São oito médicos cooperados e apenas um médico do Município que preenchem a escala de plantões durante o mês. O ambulatório da Unidade está funcionando normalmente, além dos atendimentos de retirada de pontos, curativos, vacinação, odontologia e troca de sonda, em que a unidade é referência municipal no atendimento.

Hoje pela manhã, quem procurou atendimento no Pronto Socorro da Unidade estava sendo encaminhado para a Unidade Mista de Cidade Satélite, que tinha médico hoje ou para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Pajuçara. “Um plantão sem médico aqui em Mãe Luiza é muito tenso, pois a qualquer momento pode chegar alguém baleado e se não atendemos, por falta de médicas, eles jogam pedra nos vidros e ameaçam os funcionários”, relata o recepcionista Heridelson Medeiros de Souza.

Ministério Público recomenda que Município garanta atendimento em maternidades

Com o início do mês e das escalas de plantão, apesar da paralisação dos médicos da Cooperativa, apenas a Maternidade de Felipe Camarão permanece com o atendimento às gestantes suspenso. A Maternidade das Quintas e a Leide Morais, conhecida como o Hospital da Mulher, retomaram o atendimento com a escala médica preenchida por profissionais do quadro do Município.

Mesmo assim, diante das recentes paralisações e suspensão do atendimento, o Ministério Público do Rio Grande do Norte recomendou a Secretaria Municipal de Saúde que as maternidades de Natal estejam em “funcionamento regular e contínuo” o mais breve possível. A promotora Elaine Cardoso Teixeira, da promotoria de Defesa da Saúde Pública, encaminhou a recomendação à secretária de Saúde da capital potiguar, Maria Joilca Bezerra Loureiro de Carvalho. A recomendação foi publicada na edição deste sábado (1º) do Diário Oficial do Estado (DOE).

Elaine Cardoso levou em consideração que as maternidades das Quintas, Felipe Camarão e Leide de Morais encontram-se fechadas desde o dia 21, em decorrência da paralisação de médicos devido à falta de pagamento. A promotora lembrou, na recomendação, que a Secretaria Municipal de Saúde informou que era esperado o retorno dos médicos à suas atividades, inclusive nas maternidades, uma vez que o pagamento à Coopmed já havia sido feito. Mas ela tomou conhecimento que as deficiências nas três maternidades continuavam até a sexta-feira (30).

Com as deficiências no atendimento na rede municipal, a Maternidade Escola Januário Cicco apresenta novo quadro de superlotação. Por esses motivos, Elaine Cardoso recomendou à Maria Joilca Bezerra que “tome todas as providências administrativas necessárias ao funcionamento regular e contínuo das maternidades do Município, e na impossibilidade de funcionamento concomitante das três maternidades, que proceda à junção de escalas dos profissionais municipais lotados nessas unidades, garantindo o retorno das atividades de, pelo menos, uma ou duas delas”. A promotora conclui a recomendação advertindo que “a não observância desta recomendação implicará na adoção das medidas judiciais cabíveis”.

Reprodução: O Jornal de Hoje