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Médicos sinalizam greve no RN; categoria pede piso salarial de R$ 19 mil

Geral

18.04.2012

 

Publicação: 18/04/2012 09:17 Atualização: 18/04/2012 09:26

De Sérgio Henrique Santos, especial para o Diário de Natal
 
Os médicos que atuam na rede estadual de Saúde do Rio Grande do Norte poderão entrar em greve após o dia 25 de abril – mesma data em que já está prevista uma paralisação que acompanha o movimento nacional de advertência realizado pelos profissionais que atendem nos planos de saúde. O indicativo será votado numa assembleia realizada também no dia 25, a partir das 19h, na sede do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed).



A informação é do próprio Sinmed, que representa a categoria e que solicita ao Governo do Estado um piso salarial de R$ 19 mil. Atualmente o salário de um médico que cumpre 40 horas de trabalho no Estado varia entre R$ 4,8 mil e R$ 9,8 mil. Além do piso, os médicos também querem a criação de uma gratificação para os plantonistas no valor de R$ 3 mil, e melhores condições de trabalho e atendimento digno aos pacientes.



Várias audiências já foram realizadas entre o Sinmed e a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), na intenção de viabilizara pauta de reivindicações e o atendimento humanizado aos pacientes evitando riscos desnecessários para o doente e para o profissional médico. Por enquanto ainda não há uma resposta definitiva à categoria. O prazo para que a Sesap atenda às reivindicações se estende justamente até o dia 25, quando está prevista a votação do indicativo de greve.



De acordo com o titular da Sesap, Domício Arruda, o próprio sindicato reconhece que não há como ser pago um piso de R$ 19 mil imediatamente, mas espera do governo sinalizar se pode ou não pagar esse valor nos próximos anos. "Ninguém paga esse piso. Alguns médicos aqui no Estado já tem adicionais e gratificações suficientes que totalizam uma remuneração próxima a R$ 19 mil. Além disso, no final do ano passado o governo incorporou todas as gratificações ao salário. Agora na pauta do Sinmed consta uma nova gratificação de plantão, de R$ 3 mil", descreveu o secretário.



Domício Arruda disse que a Sesap está fazendo estudos de impacto orçamentário e vai encaminhar à equipe econômica do governo. "Estamos numa situação em que o Estado está impossibilitado de dar aumentos que impliquem na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Espero até a próxima semana ter um posicionamento oficial sobre o aumento possível e apresentá-lo ao sindicato. Não é uma questão que depende apenas da Sesap".



Só que a greve não tem apenas pretensões salariais. Melhorias no ambiente de trabalho e a regularização e abastecimento das unidades também é algo solicitado pelo Sinmed. "A situação da saúde pública no Estado nos preocupa muito. O médico está na linha de frente e, em caso de insucessos no atendimento aos pacientes, é o profissional vai responder junto com a unidade de saúde. O médico não pode nem deve trabalhar em condições que coloque em risco a vida dos pacientes", declarou Geraldo Ferreira, presidente do Sinmed. 



Anestesistas denunciam problemas nas unidades



Nesta segunda-feira, 16, o Sindicato dos Médicos recebeu a denúncia da falta de anestésicos básicos para a realização de cirurgias no Hospital Walfredo Gurgel. A denúncia foi feita por anestesistas que atendem no Pronto-Socorro Clóvis Sarinho. "Ocorreu no plantão diurno. Um paciente teve uma parada cardíaca, foi ressuscitado pela equipe médica, mas no momento em que foi preciso tomar drogas específicas e cardiológicas para estabilizar o ritmo cardíaco, os médicos constataram que os insumos estavam em falta na farmácia do hospital. A explicação dada pela farmácia é que os medicamentos não estão disponíveis na Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat)".



Segundo os plantonistas, os profissionais também não contam com anestésico geral e local na farmácia do Centro Cirúrgico, o que os obriga a "improvisar" para realizar as cirurgias. Faltam ainda anti-hipertensivos e antiarrítmicos, medicamentos necessários para a realização de procedimentos cirúrgicos em pacientes portadores de problemas no coração e hipertensão. "Alguns destes medicamentos estão em falta há seis meses", relata uma plantonista que preferiu não se identificar.



A denúncia dos anestesistas do HWG se estende a outras unidades da rede estadual de saúde, a exemplo dos hospitais Santa Catarina, em Natal, e do Tarcísio Maia, em Mossoró, além de outras unidades regionais. "Várias coisas comprometem e colocam em risco a vida dos pacientes nessas unidades. Coisas que vão desde as escalas incompletas de médicos, até acomodações inadequadas, sem falar na indisponibilidade de equipamentos", destacou Geraldo Ferreira. Sobre as escalas incompletas, ele disse que o problema acontece porque os pacientes procuram os hospitais e não há profissionais disponíveis para seu atendimento.



Com relação às acomodações, o presidente do Sinmed afirmou que muitos pacientes em situação extremamente grave são deixados nos corredores ou esperam atendimentos sentados em cadeiras. "Também não há leitos de UTI suficientes", acrescenta. "E mesmo os pacientes internados não tem disponibilidade de equipamentos. Faltam respiradores, por exemplo, o que provocou inclusive a morte de uma criança semana passada no Hospital Maria Alice Fernandes, e de medicamentos, que são drogas fundamentais. Sem elas os pacientes correm muitos riscos". Domício Arruda, secretário, disse que entende as solicitações, e que melhorias na rede de atendimento e abastecimento é algo recorrente na Sesap, independentemente de haver indicativo de greve ou não. 



Nos hospitais privados, lentidão no atendimento



Não bastasse a superlotação nos hospitais públicos, a rede particular começa a ficar à beira de um apagão, com a constante demora dos natalenses para conseguir atendimento nas maiores unidades. São comuns as filas e a lentidão no atendimento. O Diário ouviu relatos de pacientes que enfrentaram problemas nos hospitais da Promater e do Papi. A Casa de Saúde São Lucas e o Hospital do Coração também foram citados, embora não haja relatos para a reportagem. Nestas e em outras grandes unidades da rede privada, quem tem plano de saúde e precisa de um atendimento de urgência, precisa estar disposto a esperar.



Na semana passada, a bibliotecária Sabina Pires passou mal com fortes dores no estômago e procurou a urgência do Hospital da Promater, em Lagoa Nova, por volta das 13h30. "Minha ficha era a 49, mas disseram que havia apenas um clínico geral para atender todas aquelas pessoas que estavam na fila. Eram dezenas, inclusive um rapaz que ficou numa maca de tão grave. Liguei para o São Lucase para o Hospital do Coração e disseram que as filas tinham mais de 20 pessoas. Como na Promater só havia dez na minha frente, aguardei", contou.



Sabina passou literalmente doze horas no hospital. "Fui atendida às 18h30, mas só sai do hospital à meia noite e meia porque a medicação não fazia efeito. Acho que essa demora absurda já virou um caos. A saúde privada está se tornando um SUS um pouco melhorado", desabafou. O paciente grave que ela também acompanhou foi atendido uma hora depois dela. "Nós pagamos caro para ter acesso à saúde. Meu plano é considerado um dos melhores de Natal, custa mais de R$ 200. Pra mim não tem cabimento chegar numa urgência às 13h30 e ser atendida às 18h30. Se na minha frente tinham dez, imagine o horário que eu teria saído se tivesse procurado outro hospital, com pelo menos 20 pessoas aguardando na minha frente", comparou a bibliotecária.



Com a publicitária Lorena de Macedo Pereira ocorreu algo semelhante. Prestes a dar a luz no começo do mês, ela ligou para a Promater numa quinta-feira, tentando marcar o parto de sua filha, Júlia. "Me disseram que estavam sem vagas no centro cirúrgico e nos apartamentos. Só teria vagas na segunda-feira. Decidi então marcar no Hospital Papi para o dia 7 [um sábado]. Chegando lá, informaram que não havia leitos, nem teria como me internar. Liguei para minha médica particular em busca de solução. Tive minha filha de parto cesárea, no dia 8. Eles conseguiram um leito, mas só porque conhecia alguém que trabalha na direção do hospital, ou seja, isso é péssimo. Nem todo mundo conhece alguém que trabalha no hospital", afirmou ela.



Outro lado




O DN ouviu o diretor-presidente do Hospital Papi, Eduardo Maia. Ele reconheceu o problema no atendimento às gestantes e crianças e colocou que este é um problema que decorre da falta de investimentos na área de pediatria. "Os convênios pagam muito pouco por um leito de pediatria, o que dificulta investimentos. A cidade cresceu, aumentaram os convênios e a demanda por atendimento também", colocou Maia. Em Natal um planode saúde paga entre R$ 500 e R$ 600 por criança internada num leito de hospital.



Para um adulto, o mesmo leito custa entre R$ 2 mil e R$ 3 mil. "É inviável um hospital viver apenas de pediatria. Além disso na rede particular existem apenas dois hospitais que cobrem essa demanda, o Papi e a Promater. Se não surgirem outros serviços em breve, a demora no fluxo de atendimento infelizmente pode se agravar", lamentou o diretor-presidente. Até o fechamento desta edição, a Promater não havia se pronunciado sobre o assunto. 
Reprodução: Diário de Natal