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Mitos e verdades sobre suplementos alimentares

Geral

29.06.2013

Você já deve ter presenciado a seguinte cena: o jovem entra em uma academia e com poucos meses de musculação apresenta um corpo hipertrofiado, com baixa porcentagem de gordura e aparência de atleta olímpico. “Tá tomando bomba!”, julgam os precipitados. Com a banalização dos esteroides anabolizantes, em tempos de mulheres-fruta e saradões ‘bigbrotherianos’, o senso comum estampa o globo ocular.

No entanto, a evolução de dietas, treinamentos e da indústria química e alimentar desobriga adeptos de qualquer prática desportiva de abusarem da saúde. Um bom nutricionista, dedicação aos treinamentos e alguns reais na carteira podem transformar a vida de quem deseja perder tecido adiposo ou desenvolver bíceps, dorsais e deltóides, pois a qualidade e variedade de suplementos alimentares disponível no mercado deixa claro que só usa substâncias proibidas quem desistiu de chegar à terceira idade. Outrora confundidos com ‘bombas’, eles atingiram um grau elevado de relevância para quem precisa manter a ingestão diária de nutrientes, mas não dispõe de tempo ou paciência para retirá-los da alimentação convencional. Para o garoto com 40 cm de braço ou a senhora em recuperação de uma quimioterapia, tem para todos os gostos.

Nutricionista com especialização em nutrição esportiva, José Nilton Arcoverde está acostumado com a projeção de um biotipo ideal que as pessoas almejam ao procurá-lo. Munidos de fotografias mentais de artistas e desportistas, ou de informações acerca de determinadas substâncias, pacientes chegam ao consultório com o sonho de atingir o modelo físico rapidamente. “O profissional deve ter cuidado na hora de dizer que a pessoa não se enquadra no biotipo que ele viu na televisão ou na internet. Digo sempre que antes de gastar R$ 200 em uma proteína, é preciso conversar sobre objetivos e possibilidades. Existem os suplementos da moda que, muitas vezes, vendem um resultado inexistente. Outro dia, uma pessoa veio atrás de um tal de Turbo Force, que prometia um alto desempenho, como se fosse uma novidade. Quando fui ver, era simplesmente BCAA [complexo de aminoácidos essenciais, que inclui arginina, glutamina e taurina], que já é vendido há anos no Brasil. Não existe mistério. Para melhorar a performance ou a aparência, é treinar sério, se alimentar corretamente e suplementar com carboidrato e proteína”.

Os suplementos são divididos em seis categorias: Hipercalóricos, hiperprotéicos, vitaminas e minerais, oligoelementos (microminerais, como zinco e cromo) e Pré-Treino (combinação de aminoácidos essenciais com estimulantes, como a cafeína). “A grande maioria das pessoas acha que o suplemento vai resolver a vida dela. Basta ter dinheiro, comprar o melhor produto possível e pronto, o resultado aparecerá de todo jeito. Caso demore, ele troca de produto na esperança de encontrar o efeito desejado. Sabemos que não é assim. A primeira coisa para quem sente que está tendo pouco resultado com uma prática esportiva é rever a dieta e o treino. O próprio nome suplemento deixa claro que ele não é o principal, mas uma ajuda. E aí entra o conflito entre a nutrição tradicional e a esportiva. Por isso, a importância de sempre procurar profissionais qualificados, tanto nutricionistas como educadores físicos. Fatores como taxas de sódio, colesterol e retenção hídrica merecem atenção na hora de montar uma dieta e comprar suplementos, principalmente porque a moda agora é a vasodilatação”.

Com experiência de 23 anos no mercado, a Village Vitaminas é referência no segmento dos suplementos alimentares. Se durante duas décadas o foco era a juventude que aposta na inflação dos músculos como padrão estético, nos últimos três anos, a turma acima de 45, 50 anos virou o alvo, como explica Nilton Bruno, sócio-proprietário e atendente da loja que fica em Candelária. “Peguei a época em que suplemento era considerado bomba, para a maioria das pessoas. Hoje isso inverteu. Com a internet, o acesso à informação reduziu em 80% o número de pessoas que chegavam aqui na loja sem a menor noção do que queria. Pelo contrário: quem tem preconceito com suplementos, achando que é bomba, é que é estigmatizado como mal informado. Isso ainda acontece com jovens que vêm acompanhados dos pais ou avós, que são de uma época em que a escassez de informação deixava dúvidas. É raro, mas ainda recebo ligações de gente perguntando se pode passar albumina [proteína solúvel extraída da clara do ovo] no corpo ou o que pode tomar para crescer rasgando”.

Segundo Bruno, o momento apresenta um verdadeiro boom de lojas de suplementos. Quase 50 estabelecimentos, “sem contar a zona Norte”, disputam um mercado que cresceu junto à cultura do corpo perfeito pasteurizado nas artes e na comunicação. Para ele, a máxima latina de uma mente sã em um corpo são deveria ser a meta de quem foge do sedentarismo. “Aqui em nossa loja, não mudamos receita de nutricionista. Pelo contrário, indicamos profissionais sem interesse financeiro algum”. Após passar pelo crivo de um especialista em alimentos e seus efeitos no organismo, uma gama de produtos está disponível para bolsos de tamanhos variados. O suprassumo é a proteína hidrolisada, de rápida digestão, que atinge a marca de R$ 300 para um mês de uso. “É um produto importado, por isso é caro. Mas a qualidade é indiscutível. As similares nacionais apenas importam a matéria-prima e embalam aqui no Brasil. Não existe fabricação nacional desse tipo de proteína”.

Empolgado com amigos que frequentavam uma academia, Mário Silveira fez o caminho certo. Antes de se matricular, procurou um nutricionista e fez exames que apontaram uma ligeira alteração em seu colesterol. “Foi quando comecei uma dieta hipocalórica, complementada por aminoácidos de cadeia ramificada. Isso tem uns cinco anos. Tenho certeza que agia de maneira correta, botando a saúde na frente da estética. Toda vez que vejo um novo suplemento no mercado, volto a minha nutricionista para saber detalhes”. Com 38 anos, o administrador de empresas moldou o corpo de forma que satisfez o ego sem exagerar na dose. “Nunca quis ser um daqueles bombadões, forte demais. Respeito quem gosta, mas não é minha praia. Entendo a musculação e o uso de suplementos como uma forma de melhorar o físico e a saúde. Pensando assim, naturalmente a pessoa fica com uma boa aparência”. Uma das desistências de Mário foi a de ingerir termogênicos – sem acompanhamento médico, os potentes queimadores de gordura podem gerar insônia, dor de cabeça, enjôo e arritmia cardíaca.

Situação rara para consumidores de suplementos alimentares. Jairo Paiva, proprietário da Drogaria Paiva, confirma que após instalar gôndolas específicas com proteínas, aminoácidos e hipercalóricos, dentro da seção Nat & Diet, viu o fluxo de desportistas profissionais e ocasionais aumentar consideravelmente, a ponto de hoje representar cerca de 8% do faturamento da empresa que conta com oito filiais espalhadas pela capital potiguar. “A partir de 2010, quando começamos a investir pra valer em suplementos, a procura aumentou muito. Para isso, criamos uma estrutura com um profissional que visita clínicas e academias para levar informação sobre os produtos dos seis laboratórios com que trabalhamos. Somos uma loja generalista, que vende medicamentos também, então precisamos criar um novo conceito dentro da empresa. Aqui ele terá a orientação de um farmacêutico e a certeza de qualidade dos mais de 300 produtos que vendemos”. Segundo dados (2011) da Associação Brasileira das Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri), o mercado brasileiro está na primeira infância. Apenas 5% da população consumem suplementos, gerando uma receita de R$ 500 milhões anuais. Ou seja, nada, diante dos U$ 150 bilhões em todo o mundo.

Fonte: O Jornal de Hoje