3201 5491

FALE COM A GENTE

ÁREA DO COOPERADO

Morre-se mais do coração

Geral

14.04.2013

Doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC), são as principais causas de mortes prematuras em todo o mundo, representando cerca de 17,3 milhões de óbitos por ano — 1/3 da mortalidade mundial, de acordo com Johanna Ralston, presidente da Federação Mundial de Cardiologia. No Brasil, são 300 mil mortes por ano. Sendo que 40% dessas mortes ocorrem antes dos 50 anos de
idade.
A preocupação com doenças cardiovasculares, principalmente sua prevenção, esteve em evidência em todas as palestras do fórum “Reduzindo a Mortalidade Global em 25% até 2025”, promovido no Rio de Janeiro, pela World Heart Federation. O TN família foi convidado.

A presidente da Sociedade Interamericana de Cardiologia, Márcia Barbosa, ressaltou que as doenças cardiovasculares acometem mais os cidadãos de baixa renda, justamente por eles terem menos condições financeiras para investir em controle e prevenção. “Não bastasse a crueldade de também serem vítimas das doenças tropicais.”

As doenças cardiovasculares também são a principal causa de hospitalizações no Brasil, gerando altos custos ao sistema nacional de saúde. Um estudo realizado pela Global Burden of Disease Study, em 2010, apontou serem a doença isquêmica do coração e o derrame, respectivamente, a segunda e a terceira causas mais comuns de mortes prematuras no Brasil.

Arquivo TN
No Brasil, os principais fatores de risco são tabagismo, alimentação de má qualidade, hipertensão arterial, uso abusivo do álcool, obesidade e colesterol altoPassado e futuro

Para o professor de Medicina e Cardiologia do Mt. Sinai Hospital, de Nova York, o indiano Jagat Narula, as doenças cardiovasculares continuarão matando as pessoas da mesma forma que anos atrás. Ele fez um interessante resumo histórico de como os males do coração atingia os povos antigos, desde o primeiro homem, há 200 mil anos, na África. “Temos que fazer algo antes que seja tarde demais. E, sinceramente, já acho que é tarde demais.”

Jagat comentou que na Ásia as doenças cardíacas, bem como o primeiro infarto, ocorrem bem cedo devido o contato com fatores de risco surgir igualmente cedo.

Citando o Egito, Jagat Narula comenta ser possível perceber fatores de risco há mais de 4 mil anos. “Analisando as múmias, concluímos serem os faraós pessoas que mal caminhavam, pois pertenciam a alta casta da sociedade, sendo sempre carregadas.”

Para o médico e professor indiano, a industrialização dos alimentos aliada à falta de atividades físicas trarão muitos prejuízos à saúde dos habitantes de países como Rússia, Brasil e Índia. “Idade não é o problema, mas sim o tempo exposto aos fatores de risco.”

Evite maus hábitos

No Brasil, os principais fatores de risco com maior incidência entre a população são tabagismo, alimentação de má qualidade, hipertensão arterial, uso abusivo do álcool, obesidade e colesterol alto. Todos os especialistas palestrantes concordam que informação e prevenção ainda são os melhores remédios para conter o avanço das doenças não-transmissíveis e, assim, atingir as metas da OMS até 2025.

Márcia Barbosa ainda ressaltou na sua palestra que o Brasil conseguiu diminuir o tabagismo em 20 anos. Segundo ela, cerca de 50% de quem fuma terão mortes relacionadas ao cigarro — sem falar no fumo passivo. “Precisamos de leis antitabagistas mais severas, assim como as de controle do sódio nos alimentos.”

Já a presidente da Federação Mundial de Cardiologia, Johanna Ralston confessou ter ficado muito satisfeita ao ver o comportamento da população do Rio de Janeiro em prol dos hábitos saudáveis. “O Brasil é um líder no controle mundial e combate às doenças cardiovasculares. Fiquei muito feliz vendo as pessoas se exercitando nas ruas, comendo alimentos saudáveis”, elogiou. “E ao instituir espaços públicos livres de fumo, você está salvando vidas. O Brasil também deu uma grande prova ao mundo nesse sentido.”
 

RN implementa várias ações de combate

As metas e indicadores estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde estão alinhados com o Plano de Ações para o Enfrentamento das Doenças Crônicas do Ministério da Saúde, lançado em 2011. De acordo com dados do departamento de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, cerca de 72% das mortes ocorridas no País têm como causa doenças crônicas.

O Rio Grande do Norte tem frentes de combate às doenças não transmissíveis e está no plano de ação, estabelecido pelo Ministério da Saúde, para reduzir em 2% por ano a mortalidade prematura, como informa Severina Pereira do Núcleo de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis.

Segundo Maria Antonieta Marinho, consultora do Ministério da Saúde na Secretaria Estadual de Saúde, o Rio Grande do Norte registrou, em 2011, o índice de 96,4% de óbitos não-fetais, com causa básica bem definida.

Infarto e diabetes (doenças crônicas) ocupam primeiro e segundo lugares, respectivamente, seguidos por pneumonias, agressões/violência e neoplasias.

Já outros dados fornecidos por Severina Pereira, extraídos da pesquisa Vigitel Brasil 2011, do Ministério da Saúde, dão conta que 11% da população maior de 25 anos é fumante, o que dá em torno de 250 mil pessoas. Desde 1996, o estado mantém um programa de tratamento para fumantes que queiram se curar do vício, com vários pólos na capital e no interior. O mesmo não ocorre com relação ao alcoolismo, cujos casos são encaminhados para o Alcoólicos Anônimos. “Embora tenhamos uma dependência química muito alta no Estado. Segundo o Vigitel, em Natal 17,5% da população, homens e mulheres, a partir de 18 anos, faz uso abusivo de bebida alcoólica”, comenta Severina.

Para combater a obesidade, e consequentemente a hipertensão e o diabetes, o Estado tem investido em pólos de academia, desde 2006. “Estão sendo liberados, de 2011 para cá, entre 80 e 180 mil reais para a construção desses pólos.”

Palestrantes

Brasil foi escolhido para a realização da primera edição do fórum “Reduzindo a Mortalidade Global em 25% até 2015”

Dra. Gláucia Moraes
Presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj)

Dr. Jagat Nural
Professor de Medicina e Cardiologia do Mt. Sinai Hospital, de Nova York

Johanna Ralston
Presidente da World Heart Federation, entidade organizadora do evento

Dr. João Lima
Profº de Medicina, Radiologia e Epidemiologia da Johns Hopkins University, Baltimore (EUA)

Dra. Márcia Barbosa
Presidente da Sociedade Interamericana de Cardiologia

Fonte: Tribuna do Norte