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Número de casos aumenta 55%

Geral

19.06.2012

O setor de Controle da Dengue, da secretaria Municipal de Saúde (SMS), estuda a possibilidade de utilizar, mais uma vez, o carro-fumacê para combater a proliferação do mosquito Aedes egypt. Em março deste ano, seis bairros receberam a visita de equipes da secretaria Estadual da Saúde Pública (Sesap) – responsável pelo equipamento. A intenção é aumentar o número de bairros assistidos. Para o médico infectologista, Kleber Luz, a situação atual é preocupante e o combate ao inseto precisa de ações mais eficazes. "Deveriam convocar Exército, Polícia e tudo mais que for possível", afirmou.

De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela SMS no último dia 14, a capital do Rio Grande do Norte continua com o quadro de epidemia da doença. São 7.138 casos de dengue clássico em 22 semanas. Comparado com o ano passado, no mesmo período, o aumento de casos 55,24%. No mesmo período, também houve um  crescimento de 49,07% no número de casos de dengue grave. Até agora, são 401 pacientes diagnosticados.



De acordo com o coordenador do Programa Municipal de Controle da Dengue, Lúcio Pereira, o trabalho dos agentes de combate a endemias é contínuo. "É igual a cantiga de grilo, é direto. Todos os dias estamos nas ruas, visitando os domicílios para combater os focos e orientar a população", colocou. Porém, na semana passada, o diretor do Sindicato dos Agentes de Saúde do Rio Grande do Norte (Sindas-RN), Cosmo Mariz, disse que os seis ciclos de visitas às residências dificilmente serão completados por causa da falta de condições de trabalho para os agentes de endemia.



Como forma de complementar o trabalho dos agentes, a SMS pode solicitar à Sesap que sejam retomadas as operações Ultra Baixo Volume (UBV) – popularmente conhecido como carro-fumacê – que configura-se como uma ação de combate à dengue, recomendada quando as ações de prevenção de rotina do Município deixam a desejar e a epidemia já está instalada. "É o nosso caso. Estamos vivendo uma epidemia que há tempos não vivíamos. É preciso agir. Passou da hora de colocar os carros-fumacê nas ruas", afirmou Kleber Luz.



Lúcio Pereira informou que nada está definido e não há data agendada para os carros percorrem as ruas da cidade. "Ainda vamos iniciar a conversa entre as secretarias", disse. Em Natal, os bairros atendidos pelo sistema, em março deste ano, foram: Igapó, Alecrim, Quintas, Bom Pastor, Nordeste e Dix-Sept-Rosado. O coordenador explicou que o carro-fumacê não é a "tábua de salvação" para o problema da dengue. "A população precisa entender que as demais ações é que constituem a barreira para combater a doença. O carro-fumacê tem suas limitações. Por exemplo: só mata o mosquito adulto".



Ontem, a Sesap divulgou nota a respeito do uso do carro-fumacê. Para a subcoordenadora de Vigilância Ambiental da secretaria, Iraci Nestor, ações ações educativas como fazer a higienização de cozinhas e banheiros, não deixar embalagens e pneus expostos à chuva e sol e evitar a água parada onde o mosquito da dengue se reproduz, funcionam mais do que a atuação do carro-fumacê. "A população tem uma visão errada do carro-fumacê como sendo a ação de maior eficiência e que vai acabar a dengue e por isso não valoriza as ações de rotina, supervalorizando as ações de UBV", disse.



A nota divulgada no site da Sesap diz ainda que, de acordo com o responsável técnico pela Base UBV da Sesap, Victor Hugo Dias Diógenes, o carro-fumacê é uma ferramenta utilizada em último caso. "É importante as pessoas saberem que o carro-fumacê só mata o mosquito voando, não mata o foco nem os mosquitos que estão aguardando para nascer".



Secretaria teria focos do mosquito



Três pessoas estão com suspeita de dengue na casa do contador Damião Rezende. Além dele, esposa e genro já procuraram o posto de saúde para verificar se foram picados pelo mosquito Aedes egypt. Na rua onde Damião mora, a história se repete em outras residências. Os moradores da rua Francisco Maia Sobrinho, no bairro Lagoa Nova, suspeitam que há focos do mosquito em imóveis fechados e na sede da secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb).



O motivo para a suspeita é a quantidade de lixo existente nos estacionamento do prédio. Pedaços de madeira e restos de faixas estão jogados no chão sem nenhum tipo de proteção. A dona de casa Sandra Nogueira mora no local há 30 anos e contou que nunca havia vivenciado esse problema. Além da suspeita de focos do mosquito da dengue, ela disse que, por causa da sujeira, surgiram ratos e outros mosquitos na rua. "Tenho certeza que é por causa desse material que fica jogado na secretaria. Não existia isso aqui. Agora é normal aparecerem ratos. Para dormir, temos que usar repelentes pois temos medo de pegar dengue", disse.



Os moradores contam que procuraram a secretaria há cerca de três meses para denunciar o problema. "Falamos com alguns funcionários e nos disseram que iam limpar esse espaço mas, até agora, nada foi feito", informou Sandra. "A gente espera que a Prefeitura dê o exemplo e faça alguma coisa", completou Rezende. Os moradores contaram ainda que os agentes de combate a endemias visitam as residências e nunca foi detectado nenhum foco do mosquito Aedes egypt nos imóveis abertos, no entanto, algumas casas estão fechadas e são motivo de preocupação. "Algumas casas estão fechadas e têm piscina. Isso pode ser um perigo", contou Sandra.



Com o início do período chuvoso, a população redobra a preocupação com a possibilidade de proliferação do mosquito Aedes egypt. Porém, de acordo com Kleber Luiz, o problema maior é quando há estiagem. "Muita chuva acaba transbordando os locais onde há acumulo de água e a larva morre, cai no chão. Não é apenas com a presença de chuvas que teremos dengue. Observa-se esse ano. Não tivemos muitas chuvas e, no entanto, o número de casos é maior que o do ano passado em Natal", pondera.



O especialista orienta a população à procurar um posto médico quando surgirem sintomas como febre, dor de cabeça e no corpo. "Os diabéticos, hipertensos e a população de pele branca deve redobrar os cuidados porque estão mais susceptíveis à complicações, especialmente se contraírem a doença por mais de uma vez". Além disso, explicou o médico, os profissionais de saúde precisam saber como manejar a doença. "Para tanto, o Ministério da Saúde disponibilizou, em seu site, um curso simples que qualquer um pode ter acesso", afirmou.



Vacina contra a dengue deve ser lançada em 2013



Natal ocupa posição de destaque no Brasil com relação ao desenvolvimento de uma vacina contra a dengue. No Hospital Varela Santiago, há um estudo iniciado em outubro passado sobre o medicamento. Há uma espécie de concorrência mundial de empresas para o desenvolvimento de uma vacina segura e realmente eficaz contra a doença.



A produção da vacina é de altíssima prioridade para o Ministério da Saúde, que amarga altos custos com o tratamento dos infectados. Levando em conta apenas os gastos com hospitalização pelo Sistema Único de Saúde (SUS), decorrentes da dengue clássica e da febre hemorrágica da doença, já se foram R$ 120 milhões na última década (2000-2009), em mais de 140 mil hospitalizações.



O lançamento está previsto para o ano que vem, mas a produção só deve começar em 2014. Atualmente, vem sendo realizado um estudo epidemiológico, entra crianças e adolescentes de 9 a 16 anos de idade, num total de 750 participantes, nas cidades de Vitória (ES), Campo Grande (MGS), Fortaleza (CE), Goiânia (GO) e Natal (RN). A vacina é tetravalente e imunizará as pessoas contra os quatro tipos de vírus da dengue. Quando estiver pronta, ela deverá ser aplicada em três doses, com intervalo de seis meses entre cada aplicação.



Segundo os produtores, a vacina terá eficácia de 70%, de acordo com a premissa acordada com autoridades regulatórias mundiais de saúde, a Organização  Mundial de Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ainda não há como afirmar prazo de validade e durabilidade da vacina em desenvolvimento.



Quando estiver pronta, a distribuição da vacina ficará a cargo das autoridades de saúde. "Estamos trabalhando forte nesse trabalho e esperamos bons resultados no futuro. Mas, antes que isso aconteça, é preciso a conscientização da população e mudança de hábito com relação ao cuidado com o abastecimento de água", diz Kleber Luz.



Bate-papo



Kleber Luz, médico infectologista



O município corre o risco de não completar os seis ciclos de visitas dos agentes de endemias aos imóveis. O que isso pode causar?



Sem a visita dos agentes, os mosquitos aparecem. Com o mosquito, temos a doença. O trabalho dos agentes é essencial. Não adianta apenas colocar propaganda em TV, rádio ou jornal. É preciso agir em todos os níveis.



O carro-fumacê é apontado pela população como a solução mais importante, mas os representantes da Sesap e SMS dizem que não é bem assim. O carro foi usado em alguns bairros de Natal este ano. Deveria ser usado em outros bairros?



Já deveria ter usado. Era para convocar carro-fumacê, Exército, Polícia, Marinha, Câmara dos Vereadores, tudo que for possível. Estamos num momento de epidemia muito preocupante, como há tempos não víamos. A doença não tem um remédio específico, não tem uma vacina ainda. A única opção é combater o mosquito.



O número de doentes vai continuar aumentando nos próximos dias?



Temos um controle natural da doença a partir de julho. Mas, em outros anos, na metade de junho os números caíam. Não está acontecendo isso este ano. Os postos de saúde estão cheios, os hospitais da mesma forma. Muita gente reclamando e sentindo os sintomas da doença. 

Reprodução: Tribuna do Norte