Pesquisadores debatem sobre efeitos do gás radônio à saúde
Geral
29.09.2012
Você já ouviu falar em radônio? Único elemento gasoso radioativo presente na tabela periódica, a sua radioatividade equivale a 55% das radiações pelas quais os seres humanos estão sujeitos durante toda a vida. O gás nobre se difunde em ambientes de convívio humano por meio de materiais de construção, solo e água, podendo continuar seu processo de fissão emitindo partículas alfa, beta e gama. Uma pesquisa realizada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) mostrou que o desenvolvimento de câncer no pulmão é causado na maioria das vezes pela inalação do gás nobre presente da natureza, perdendo apenas para o cigarro.
De acordo com o professor doutor em geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Thomas Ferreira da Costa, os números encontrados pelos pesquisadores americanos são importantes para a consolidação do estudo no Brasil. Pioneiro na organização do I Seminário sobre o Radônio no Brasil, o Rio Grande do Norte recebeu até ontem nomes da geologia química, médica e física de vários estados brasileiros e até mesmo de países como Portugal e Áustria.
"O tamanho do universo afetado por elevados índices de radônio, por desconhecerem os seus riscos, pode ser amplamente reduzido se houver estudo e prevenção. Quantos milhões de reais em dinheiro público poderiam ser direcionados para a melhoria de outros campos da saúde, fora o câncer, se houvesse um trabalho de conscientização e normatização das construções?", colocou o professor.
Segundo Thomas, quanto maior o teor de urânio no solo, mais elevados são os índices do gás radônio no ar. "É um processo de desintegração radioativa. O urânio se transforma em rádio, que passa ao estado gasoso. Esse gás, se inalado pelo ser humano em elevadas concentrações, transforma-se em elementos radioativos sólidos dentro do pulmão. É nessa hora que ele quebra a cadeia natural do DNA e pode, ou não, gerar câncer", explica o especialista.
Todo solo tem alguma concentração de urânio. Consequentemente, qualquer lugar apresenta radônio nas partículas do ar. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o nível de radônio considerado normal é de 100 becquerel por metro cúbico de ar. Um becquerel representa a desintegração de um átomo de urânio. "As pessoas podem temer a radioatividade porque gerou-se a ideologia no século XX de que era algo perigoso. Mas a radiação sempre existiu, está presente nas nossas vidas e vai continuar existindo por mais 4 bilhões de anos. É preciso aprender a conviver com ela de modo a que não seja nocivo", considerou.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica (SBPR), Alfredo Lopes Ferreira, a função do seminário é desmistificar o medo que as pessoas sentem pela radioatividade. "A tentativa é de reunir pesquisadores que trabalhem com o tema em várias regiões do país e do mundo, visando conjugar esforços e os conhecimentos a respeito da matéria", realçou o presidente.
Membros da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM), órgão federal conivente com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Zildete Rocha e Vandir Gouveia afirmam que não é tarde para o Brasil se preocupar com esta temática. "O processo é demorado, por isso é necessário que se comecem os estudos para a aplicação de uma lei brasileira que fomente a construção de imóveis de forma regulada, com o isolamento dos solos e paredes, também atentando para a ventilação dos locais. Não apenas nas cidades, mas também nas minas pelo país. O que estamos tratando é um assunto de saúde pública e de regulação federal", acrescentam.
A obrigatoriedade da medição dos índices de radiação pelo radônio em residencias e em locais de trabalho é uma das buscas dos pesquisadores. O número de pessoas que sofrem com a contração de cânceres por esse motivo é comprovada nos elevados gastos com saúde oncológica apontados pelo Governo Federal. Segundo eles, é possível economizar milhões em saúde pública se houver a criação de uma lei que determine a medição da radiação. "O fato de não possuirmos nenhuma legislação específica que trate desse tipo de contaminação e que regulamente os índices dessa radioatividade, indicando ações controladoras apenas culmina no postergar de um problema que fará a população sofrer, sem que eles nem saibam que existe", finalizam os geólogos do CNEM.
RN apresenta maiores índices de radônio
As pesquisas sobre os índices de radônio no Brasil ainda "estão muito incipientes e dispersas", de modo que ainda não é possível definir quais são as regiões mais problemáticas nem a sua abrangência em termos nacionais.
Contudo, já é possível afirmar que os valores mais elevados do índice de radônio no ar são registrados no Rio Grande do Norte, segundo o professor Thomas Ferreira da Costa, geólogo da UFRN.
A justificativa, em princípio, está relacionada à geomorfologia da região Seridó, que possui uma das maiores reservas do mundo de pegmatitos – rocha magmática rica em urânio. "Os municípios onde são registrados os maiores índices são Lucrécia e Lajes Pintadas", revelou.
Segundo Thomas, a constatação não é motivo de preocupação. Por ser um gás, a ventilação constante impede que haja contaminação. "Há momentos em que o gás pode estar acima dos níveis recomendados pela OMS, que é de 100 becquerel por metro cúbico de ar. A ventilação faz com que esse índice se dissipe e reduza facilmente", explicou.
Em Natal e região metropolitana, as rochas são sedimentares e por isso os índices de radônio não são tão elevados. "Sem contar que a cidade é bem ventilada. Então, os riscos são mínimos", finalizou.
Fonte: Tribuna do Norte