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Polêmica: médico de clube revela como é possível liberar um jogador para atuar mesmo machucado

Geral

09.06.2016

Uma prática que permanece comum no futebol brasileiro, e em outros esportes de alto rendimento, é a liberação de atletas para atuar mesmo sem estarem recuperados de contusões. Não são raros os exemplos de jogadores que entram em campo gripados, com lesões musculares, de articulações e até após convulsão, como ocorreu com o atacante Ronaldo na final da Copa do Mundo de 1998. Neste momento, todo o aparato científico propalado no meio esportivo, todos os estudos minuciosos apresentados na defesa de um jogo por semana e todo o discurso em favor da "preservação do jogador" perdem lugar para um argumento: o de que "a partida é importante".

Segundo o médico do Palmeiras, Rubens Sampaio, o American College of Sports Medicine (Colégio Americano de Medicina do Esporte) tem uma espécie de guia que serve de referência para o médico escalar um jogador, mesmo que este não esteja recuperado. Ele diz que tal método leva em conta itens como interesses financeiros em torno do jogo, circunstâncias da partida e grau da contusão do atleta que, dependendo do caso, pode entrar em campo se o agravamento eventual de uma lesão não comprometer sua carreira.

Situação similar ocorreu com o atacante Dudu que, recentemente, teve uma lesão na coxa direita agravada após entrar em jogo contra o Corinthians, considerado decisivo. Em entrevista ao R7, Sampaio explica o porquê de ter liberado o jogador para a partida, ressaltando que esporte de alto rendimento não é uma prática saudável.

Esporte de alto rendimento é saudável?

Rubens Sampaio – Não é. Essa é uma diferença fundamental em relação ao esporte para a qualidade de vida. O esporte como lazer, lúdico é uma coisa. Como competição, meio de sobrevivência, é diferente e não é saudável. É buscar o limite para bater o oponente ou o tempo, ir um pouco além do que foi na última competição, no último treino, melhorar o desempenho cada vez mais.

 – Como um médico do esporte, até por questões éticas, seguindo o juramento de Hipócrates, lida com essa situação, de atuar em um ramo em que a saúde acaba não sendo a prioridade?

RS – Quando você fala na questão da saúde do atleta, o papel do médico é justamente fazer com que ele consiga desenvolver todas as virtudes físicas dentro da margem de segurança dele. Mas esse é um limite muito fino, no fio da navalha. Vez por outra ele vai se machucar. Não falo necessariamente de esportes de contato, mas de esportes de repetição, como atletismo e vôlei. As pessoas se machucam. O volume, a intensidade e o tempo vão trazer algumas consequências para o aparelho musculo esquelético que vão fazer com que ele em determinado momento vá ter mais saúde, mais força, vai melhorar, mas em longo prazo, como o ser humano é finito, a chance de terminar a vida de atleta com uma perda maior de cartilagem é grande.

 – Até qual frequência pode chegar o batimento cardíaco de um atleta?

RS – É muito pessoal, você mistura as características individuais e genéticas de cada um e se consegue treiná-lo. Mas há caras com capacidade cardiorrespiratória alta, você tem jogadores cuja a frequência cardíaca é 30, 35 batimentos por minuto, com alguma constância [a média costuma ser entre 60 e 100]. Isso em uma pessoa sedentária o faria ficar bradicárdico [diminuição de batimentos] com alguma patologia preocupante, mas para os atletas tal frequência não é algo incomum.

 – Em quanto tempo alguém se torna atleta?

RS – Ser atleta é uma filosofia de vida, que não é fácil. Ele vive para ser atleta. Se alguém que não é atleta hoje começar a treinar intensamente vai melhorar mas não vai ser atleta. Para você ser um atleta e competir em alto rendimento, além de abnegado, você tem de ter alguns predicados possivelmente genéticos. No futebol, por exemplo, a competição é enorme, é absurda. A quantidade de jogadores com boa qualidade e boa condição que não vingaram por não terem força, não terem velocidade, que são demandas do futebol moderno, é grande.

– Quais prejuízos para a saúde um atleta pode ter após o fim de sua carreira?

RS – Ele sai da carreira com uma condição de atleta, cardiorrespiratória, muito boa. Se ele tiver bons hábitos, terá uma sobrevida maior, lógico, dependendo também da genética. Mas em relação a músculos e parte óssea, por exemplo, há alguns caras que trabalharam comigo, não sei se posso nem falar, não conversei, mas o [cita o nome de um ex-jogador] fez prótese de quadril, o [cita o nome de outro ex-jogador] fez prótese de quadril, o [cita o nome de um terceiro ex-jogador] acho que fez prótese de quadril. São jogadores que passaram muito tempo em campo com uma doença chamada Impacto Fêmoro Acetabular, que era pouco conhecida. Hoje você identifica e tem medidas para proteção, mas são jogadores que sofreram por causa da profissão, fizeram prótese e tiveram uma limitação.

Fonte: R7.com