Sem pediatras, Maternidade Escola Januário Cicco só está realizando partos de emergência
Geral
20.06.2013
Depois de dois meses imersos em um caos devido à falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, a Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC) ainda sofre com os reflexos da crise. Nesse período, os pediatras da sala de parto ficaram responsáveis pelos recém-nascidos da sala de parto, do centro cirúrgico obstétrico e ainda acompanhavam os bebês das UTI Neonatal improvisada.
Diante da sobrecarga de trabalho, os pediatras se recusaram em cumprir a mesma quantidade de plantões dos meses anteriores e com isso, de hoje até o final do mês de junho, a escala de pediatras está com plantões descobertos. O resultado disso é que a partir de hoje, os partos na Maternidade Januário Cicco estão suspensos, com exceção das emergências. As gestantes em trabalho de parto que procurarem a unidade serão encaminhadas para as maternidades das Quintas e Felipe Camarão.
A Maternidade está respaldada por um documento do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern), que permite que, na falta de pediatras, o serviço pode ser fechado. No entanto, explica a diretora médica da Maternidade, Maria da Guia Medeiros, que em casos de emergência, o pediatra que estiver de plantão, mesmo que seja na UTI Neonatal, não pode se recusar em atender a paciente. Hoje pela manhã a própria diretora teve que realizar um parto cesáreo e contou com a colaboração de uma pediatra que estava de plantão na UTI. Este foi o único parto realizado pela Maternidade na manhã de hoje, de uma paciente que já estava internada na unidade, com gravidez de alto risco. “Outro parto, só emergência”.
“Hoje não está realizando parto. Mas esse ‘não está’ é relativo, pois se a paciente chegar em período expulsivo vamos receber, pois ela às vezes faz o parto dentro da ambulância, sem médico e sem pediatra”, explicou. Hoje pela manhã e a tarde não tem pediatra. Amanhã tem pediatra de manhã e à noite, mas tem profissional pela tarde. No sábado (22), não tem pediatra em nenhum horário. No final da manhã de hoje, a estudante Walkiria Galvão, do município de Tibau do Sul, procurou atendimento na Maternidade depois de ser transferida do hospital do município. Como ela ainda está na 32ª semana de gravidez, ela ficou internada, pois é uma gestação de alto risco.
A diretora médica da Maternidade, Maria da Guia Medeiros, explicou que esses pediatras são pagos pela Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura da UFRN (Funpec) para prestar serviço na Maternidade Escola Januário Cicco. “No mês de junho, devido aos dois meses de sobrecarga de serviço, os pediatras não quiseram dar a quantidade de plantões que eles davam nos meses anteriores e eles não têm obrigação de dar esses plantões, pois eles são serviços prestados”.
Ao todo, são 13 pediatras pagos pela Funpec para dar plantões na Maternidade. Em abril, foram pagos 63 plantões e em maio, 72,5 plantões. Para o mês de junho, os pediatras disseram que só cumpririam 32 plantões. “Um pediatra que deu 12 plantões não quis mais isso. Eles disseram que ganharam dinheiro, mas morreram de trabalhar, saindo exaustos. Todos mandaram reduzir os plantões e no fim das contas faltaram uns 30 plantões para serem preenchidos. Os pediatras não quiseram dar plantão porque passaram dois meses trabalhando sobrecarregados”, afirmou a diretora Maria da Guia.
Do quadro da Maternidade, são 11 pediatras que são responsáveis pelo acompanhamento dos recém-nascidos da UTI Neonatal. A diretora explica que, para fechar uma escala médica de pediatras na UTI Neonatal, são necessários 11 pediatras com carga horária de 20 horas. Para a UTI Intermediária, são mais 11 pediatras, além de ter que ter pediatras para a sala de parto, para o centro cirúrgico obstétrico e para fazer visita aos 60 bebês que estão internados diariamente na Maternidade. “É uma conta que nunca fecha. Na pediatria vivemos o mesmo caos que se vive na obstetrícia”, destacou.
Depois de muito trabalho, Maria da Guia conta que conseguiu pediatras para fechar ainda 15 plantões, dos 32 necessários. “Cobrimos o começo do mês, mas a partir de hoje vai começar a ficar descoberto. Vamos ter momentos em que não teremos médicos”, afirmou a diretora. Ela explica que percorreu vários caminhos para solucionar o problema. O primeiro foi o corpo a corpo e diálogo com os próprios pediatras, mas não surtiu efeito, pois todos foram taxativos em não querer dar plantão na Maternidade Januário Cicco. Em seguida, foi aberto um processo seletivo pela Funpec para contratação de oito pediatras, mas só houve um inscrito, que só assumirá no próximo mês.
“Pedimos ao município de Natal, se era possível pagar alguns plantões pela Cooperativa dos Médicos para cobrir os buracos do mês de junho, que era o desfalque maior, enquanto se resolvia o problema. O secretário [municipal de Saúde] Cipriano foi sensível e disse que pagava. Entrei em contato com a Coopmed, mas ninguém se interessou em cumprir os plantões. Só tem uma pessoa que vai dar três plantões pela Coopmed”, afirmou.
Com o fechamento da Maternidade Leide Morais, surgiu outra possibilidade. Encaminhar os profissionais da unidade da zona Norte de Natal para cobrir os plantões na Maternidade Januário Cicco. No entanto, o secretário adjunto de Saúde de Natal não conseguiu convencer os profissionais, já que parte deles é da Cooperativa e já tinham se pronunciado negativamente à proposta. Os demais também não aceitaram e seriam encaminhados para as Maternidades das Quintas e de Felipe Camarão.
“Ontem teve um fórum da Rede Cegonha e avisamos a todos os representantes de municípios que não mandassem nenhuma paciente para a Maternidade e que encontrassem alternativas, pois não podemos receber nenhuma paciente. Se chegar aqui vamos encaminhar para as Quintas ou para Felipe Camarão”, explicou Maria da Guia Medeiros. Hoje pela manhã duas pacientes já foram encaminhadas para a Maternidade das Quintas. “Como não tem pediatras, vamos fechar, assim como fechou Santo Antônio, São José de Mipibu, e todos os outros lugares que fecham porque não tem pediatra. Enfim, não somos diferentes de ninguém. Somos de uma rede SUS.
Reprodução: Jornal de Hoje