As neurocirurgias eletivas feitas no Hospital do Coração financiadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) continuam suspensas desde a semana passada. A interrupção nos procedimentos foi acarretada após várias tentativas de renovação – sem sucesso – entre a unidade hospitalar e a Prefeitura de Natal que paga o serviço. O contrato havia vencido desde novembro do ano passado e até o momento não foi refeito.

Outro motivo que culminou na paralisação, mesmo que temporária, é o valor da diária dos leitos de UTI pago pela SMS à unidade hospitalar. O valor pago atualmente pela SMS ao hospital é de R$ 465, porém após reunião entre representantes das secretarias estadual e municipal de saúde esse valor deve aumentar para R$ 770. Com base nesse entendimento a Sesap vai aumentar em R$ 75 mil por mês o convênio firmado com a SMS para pagamento dessas diárias. O valor passará de R$ 1,148 milhão para R$ 1, 906 milhão.

De acordo com Domício Arruda, secretário estadual de saúde, o Governo doEstado vai complementar esse repasse à SMS visto que a Prefeitura de Natal alega que aproximadamente 60% dos pacientes atendidos pela neurocirurgia nos hospitais da capital são provenientes do interior do estado.

Apesar da informação da Sesap de que o governo vai alterar o valor repassado à SMS, a secretária municipal de saúde, Maria do Perpétuo Socorro Nogueira, informou por meio de sua assessoria de imprensa que "a SMS ainda está negociação com o hospital e que a situação deve se normalizar no fim de semana".

O presidente da Sociedade de Neurocirurgia do Rio Grande do Norte, Luciano Araújo, acredita que a parceria entre a Sesap e a SMS não funciona bem. "O estado tem tentado, mas existe uma dificuldade de articulação entre a Sesap e a SMS. A negociação ainda está muito verbalizada. É preciso que o contrato entre a SMS e o hospital seja firmado efetivamente para entrar no orçamento", opina.

O médico informou que as cirurgias neurológicas eram divididas para três hospitais: Walfredo Gurgel, Hospital do Coração e Natal Center. No HWG são atendidos os pacientes que necessitam de cirurgias neurotraumatológicas decorrentes de casos de violência ou acidentes, por exemplo. Já no Hospital do Coração são feitos procedimentos eletivos neurológicos como tumores e aneurisma e o Natal Center os casos de coluna e oncologia. Segundo o neurocirgião, o Walfredo realiza por ano uma média de 400 cirurgias neurotraumatológicas e as outras duas unidades hospitalares entre 1.300 e 1.500 procedimentos eletivos.

Neurocirurgia infantil também prejudicada

Devido à deficiência de infraestrutura no Hospital Infantil Maria Alice Fernandes, o Walfredo Gurgel tem recebido constantemente crianças necessitando de neurocirurgias em caráter emergencial. A informação é do presidente da Sociedade de Neurocirurgia do Rio Grande do Norte, Luciano Araújo. Segundo ele, os médicos contratados pela Sesap para atender no Maria Alice fazem somente cirurgias eletivas. O problema, de acordo com o neurocirurgião, é que em crianças não existe casos eletivos e de urgência. "Todos têm que ser feitos o mais rápido possível", alerta.

O superintendente do Hospital Infantil Varela Santiago, Paulo Xavier, afirmou existir a possibilidade de as cirurgias neurológicas voltarem a ser feitas no hospital, porém o poder público terá que comprar equipamentos e material cirúrgico adequado. "Além disso, os órgãos de controle como o Conselho Regional de Medicina (Cremern) têm que autorizar que as tomografias sejam feitas fora da unidade porque não contamos com tomógrafo", disse.

O Varela Santiago realizava uma média de 20 procedimentos neurológicos por mês. Agora a diretoria batalha para inaugurar a reforma do hospital que contempla 10 leitos de UTI que seriam essenciais para a retomada das neurocirurgias na unidade, porém faltam cerca de R$ 150 mil para o término das obras. Os equipamentos serão doados pelo Ministério da Saúde.

Reprodução: Diário de Natal