Síndrome social
Geral
14.05.2013
NA SEGUNDA REPORTAGEM DA SÉRIE SOBRE OS 30 ANOS DA AIDS NO RN, NOVO JORNAL MOSTRA COMO O INVESTIMENTO EM CAMPANHAS DE PREVENÇÃO É REDUZIDO E O AVANÇO DA DOENÇA EM GRUPOS CADA VEZ MAIS VULNERÁVEIS
O Rio Grande do Norte investe apenas R$ 1 milhão por ano em campanhas de prevenção e no tratamento da Aids. Os recursos não foram suficientes para frear o crescimento da doença, sobretudo na periferia da grande Natal, região que concentra 60% dos casos. A Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) estima que três mil pessoas dependam hoje do tratamento estatal para controlar a Aids.
Adolescente em situação de risco nas ruas de Natal: sexo em troca de dinheiro para manter o vício nas drogas
Especialistas chamam a atenção para um novo boom e veem no uso de drogas, especialmente o crack, a principal causa desse crescimento. O Rio Grande do Norte superou a média nacional em 2012 (14% contra 3,7%). Segundo os médicos, todos os dias pacientes são diagnosticados com a doença. A maioria dos casos está relacionada ao consumo de drogas na periferia. Sem dinheiro para comprá-la, jovens, na maioria homens, estão se prostituindo e fazendo sexo sem preservativos.
De 1983, quando o primeiro caso foi registrado, até o final do ano passado, 4.279 pessoas foram diagnosticadas com Aids. A quantidade de pessoas infectadas pelo vírus que ainda não tiveram a doença manifestada, porém, é maior. Apesar da Aids ter se transformado em doença crônica, ou seja, que pode ser controlada, ainda se morre bastante em decorrência dela. Na última década, de 2000 a 2011, vieram a óbito 759 pacientes no Rio Grande do Norte.
O governo está ciente desse novo momento, mas quer dividir a responsabilidade com os municípios. De acordo com a coordenadora do programa de doenças sexualmente transmissíveis e Aids da Sesap, Sônia Cristina Lins da Silva, o estado tem trabalhado na descentralização do tratamento e dos recursos. A verba para o tratamento que chega é toda do Ministério da Saúde. Desse montante, a Sesap administra R$ 440 mil. O restante do bolo é dividido entre os municípios de Natal, Mossoró e Parnamirim. A contrapartida do governo estadual é dada através da estrutura nos hospitais. Sônia explica que até 2009 apenas dois hospitais recebiam todos os pacientes de Aids no estado. Hoje já são dez. Ela conta que a Sesap está investindo na prevenção. “O estado tem trabalhado com a descentralização do serviço. Até 2009 só tínhamos dois hospitais atendendo casos de Aids, e havia uma demanda reprimida. Agora temos que botar na pauta da gestão que o enfrentamento é responsabilidade, principalmente, do gestor municipal. É nos municípios que as coisas acontecem”, disse.
Além de reconhecer que o consumo de drogas é uma das consequências para o aumento dos casos de Aids, Sônia Cristina vê na mudança de comportamento outra influência. “Com certeza hoje a doença é crescente pela questão do comportamento. Usar o preservativo é uma decisão pessoal, mas os avanços tecnológicos têm proporcionado qualidade de vida às pessoas. Quem morre é porque não aderiu ao tratamento, já que os medicamentos são mais eficientes”, disse.
Na conta dos recursos que veem do governo federal, Cristina não contabiliza os medicamentos, também custeados pelo Ministério da Saúde. Como os coquetéis são comprados direto por Brasília, ela não sabe quando de verba é empregada nos remédios. Sobre os recursos de R$ 1 milhão, a coordenadora explica que vão tanto para a prevenção como para o tratamento. “Gastar com tratamento requer salário de funcionário, manutenção. Esse incentivo que vem do Ministério da Saúde é, também, para apoiar ações de prevenção. Contamos com apoios de gestões e parcerias com a própria sociedade”, comentou.
A AIDS POR GRUPOS NO RN
Homossexuais – 679
Heterossexuais – 1.626
Bissexuais – 372
Usuário de drogas injetáveis (UDI) – 105
Hemofílicos – 11
Transfusão – 6
Transmissão vertical – 52
Ignorado – 1.478
Total – 4.279
Fonte: Novo Jornal