Superlotado, Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste atende cerca de 300 crianças por dia
Geral
27.03.2013
Com o fechamento dos atendimentos de urgência pediátrica da rede estadual de saúde, por falta de profissionais, quem necessita de atendimento pediátrico só tem um caminho: o Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste. O Pronto Socorro Infantil do Hospital Santa Catarina já está fechado desde o dia 19. No Hospital Walfredo Gurgel, o atendimento pediátrico só está garantido até hoje e amanhã será o último dia de atendimento do Pronto Socorro Infantil Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim. Além disso, tanto o Hospital dos Pescadores quanto a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) não dispõe de pediatras e os hospitais infantis Varela Santiago e Maria Alice Fernandes só atendem crianças referenciadas. Com isso, os três pediatras de plantão no Pronto Socorro Infantil Sandra Celeste estão atendendo uma média de 300 crianças por dia. A situação pode se agravar ainda mais porque a escala médica da unidade só está garantida até a próxima quinta-feira (28). Hoje pela manhã, cerca de 50 crianças aguardavam atendimento na recepção da unidade.
A pediatra Frankleyde Santana Gomes acredita que a grande demanda de atendimentos, saltando de cerca de 180 a 200 atendimentos por dia, para mais de 300, se deve pela suspensão no atendimento pediátrico nos hospitais estaduais e pela ineficiência da rede básica nos municípios do interior. “Hoje, o Sandra Celeste é um Pronto Socorro aberto em Natal e está responsável por atender todo o Rio Grande do Norte. O interior não tem pediatra e temos que absorver essa demanda, pois não podemos negar atendimento a nenhuma criança”. A pediatra faz um alerta de que a situação pode piorar ainda mais. “De março a julho vivemos um período em que é comum o aumento de casos de virose e a demanda tende a ser bem pior, pois a situação no interior se agrava ainda mais”.
Em relação à escala médica, Frankleyde Santana disse que hoje ela está completa, com os três pediatras, mas que o atendimento só está garantido até o dia 28. “O volume de atendimento tem sido muito grande e os funcionários estão adoecendo, além do nível de estresse também está muito alto. A alta demanda tem ocasionado uma sobrecarga de trabalho”, destacou.
Silvestre Martins assumiu a direção do Sandra Celeste interinamente enquanto a diretora Telma Lúcia de Araújo Pereira está de férias. Silvestre conta que apesar das dificuldades, a equipe tem se esforçado para garantir o atendimento. “Temos lutado para dar a melhor resposta possível para a alta demanda dentro das nossas condições. São mais de 300 crianças por dia e mais de mil procedimentos.
Estamos com dificuldades em fechar a escala, mas estamos trabalhando junto a Secretaria e a Cooperativa dos Médicos (Coopmed) para garantir o atendimento à população infantil. Nosso propósito não é suspender o atendimento e estamos trabalhando nesse sentido”, destacou. O novo diretor conta que, na última sexta-feira, a SMS encaminhou dois enfermeiros e até a próxima semana mais dois técnicos de enfermagem devem ser lotados no Sandra Celeste.
O pedreiro João Maria Bezerra levou o filho Jonas Paiva, de quatro anos, na noite desta segunda-feira para o Sandra Celeste com suspeita de infecção intestinal. Ele conta que o filho foi atendido, mas não foi internado, nem tampouco liberado. Na manhã de hoje, ele ainda permanecia na recepção do hospital à espera do resultado de um exame laboratorial para confirmar a patologia. “É uma vergonha isso. É muito triste ver meu filho ainda com dores aqui na recepção, esperando pela boa vontade dos outros. Estamos aqui porque precisamos e não porque queremos, mas o atendimento está muito ruim”, desabafou o pedreiro.
A dona de casa Ana Cristina mora no Planalto, zona Oeste de Natal. Ela conta que chegou às 7h30 para uma consulta médica para a filha de nove meses que estava agendada para as 8h, mas que até às 10h, a médica ainda não havia chegado. “É uma vergonha, pois chegamos antes do horário marcado e não fomos atendidos na hora. Temos que esperar por horas, o calor é grande, o barulho incomoda as crianças e não há nenhum conforto. É humilhante ficar nessa situação”, afirmou.
José Pereira Fraga fez uma peregrinação pelos hospitais da zona Norte de Natal em busca de atendimento para o neto, Gildemar Victor, de cinco anos, que estava com febre alta, vomitando e com fortes dores abdominais. Ele conta que foi no Hospital Santa Catarina e na UPA de Pajuçara, ambos sem pediatra, e no Hospital Maria Alice Fernandes que só atendia se fosse encaminhado. “É um descaso muito grande uma região como a zona Norte não ter atendimento para as nossas crianças. Até quando vai continuar assim? Será preciso morrer quantas crianças para que as autoridades tomem alguma providência? É um descaso muito grande com a população que não tem e nem pode pagar um plano de saúde. Se fosse um caso mais grave, de urgência, meu neto poderia estar morto”, desabafou.
A dona de casa Cristiane Andréia de Melo mora no município de Canguaretama e sempre que precisa de atendimento pediátrico ela recorre ao Pronto Socorro Sandra Celeste, em Natal. Hoje pela manhã ela levou o filho, Vinícius de Melo, de dois anos e nove meses, que fez uma cirurgia de fimose e estava inflamada, para atendimento na unidade. “Venho por conta própria, mas não tem outra coisa a se fazer. Em Canguaretama, o atendimento é péssimo e não tem pediatras. Nem agente de saúde para fazer o acompanhamento das crianças tem. O jeito é vir para Natal, que mesmo que demore, sei que meu filho será atendido, mas é uma situação muito difícil, pois nem sempre temos dinheiro para nos deslocar para Natal”, relata a mãe que chegou no Sandra Celeste por volta das 7h e até as 10h30 o filho ainda não tinha sido atendido.
Glaucilene Ribeiro mora na Cidade da Esperança e procurou o Sandra Celeste na manhã de hoje porque a filha, Grazielly Melissa, de sete meses, estava com manchas vermelhas pelo corpo. Ela conta que, apesar da demora, foi bem atendida, mas que os problemas hoje eram outros. “Não tem água para as crianças beberem, não tem copo, não tem papel higiênico. O aparelho de raio-X está quebrado, as crianças tem que ir e voltar, no sol, em um carro velho. Aqui é muito quente, falta ventilador e os médicos trabalham só pela misericórdia de Deus”, relatou.
O diretor Silvestre Luis confirmou que o aparelho de raio-X continua sem funcionar e que as crianças são levadas em um carro social para o Hospital Infantil Varela Santiago ou para a UPA do Pajuçara, mas disse que a Secretaria Municipal de Saúde estabeleceu um prazo de um mês para que o aparelho volte a funcionar. “Inclusive já temos uma médica radiologista que virá para a unidade, e está faltando apenas o pessoal de apoio, que já está sendo providenciado”, explicou.
Em relação à falta de material, Silvestre conta que a alta demanda tem feito com que o material acabe antes do prazo, mas que a Secretaria está mandando o material semanalmente de forma regular. Hoje pela manhã, enquanto a reportagem estava na unidade, o material estava chegando.
Fonte: Jornal de Hoje