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Um dia na vida das médicas cubanas

Geral

30.12.2013

Mais de cinco mil quilômetros de distância entre Cuba e a capital do Rio Grande do Norte, deixando para trás águas mais azuis, areias mais brancas. Uma saúde de ferro, uma educação exemplar. Há de se perguntar o motivo, já que, à primeira vista, a lógica não parece favorável.

A resposta é muito simples: solidariedade. Esse é o lema que possibilitou a vinda das médicas Yasel Cairo Gutiérrez e Yamile Perez Basulto ao Brasil. As duas são cubanas e fazem parte da equipe de profissionais estrangeiros integrantes do programa Mais Médicos, do governo federal. Elas estão na capital potiguar desde fins de outubro, mas contam que ainda precisam de tempo para se adaptar ao famigerado jeitinho brasileiro, seja no bom ou no mau sentido.

Yamile tem 39 anos, enquanto Yasel, 32. Não parece; ambas aparentam estar na casa dos 20, ainda. Agradeceram-me pela incredulidade, por sinal. Em um primeiro momento, há um ar de cautela nas palavras em (bom) portunhol das doutoras. “Não vejo nada de interessante que possa te responder, dificilmente terei alguma informação relevante pra dar”, esquivou-se a mais nova – também a mais falante. Com um pouco de jeito, muita gesticulação e uma dose de insistência, porém, os caminhos foram se abrindo.

Por trás da aparência séria, quase lacônica, foram desabrochando duas flores caribenhas, duas jovens altruístas que voaram para longe de seu país com o objetivo de servir não a uma cidade, um estado ou um país; mas a seres humanos. Essa, aliás, foi a frase mais dita durante todo o dia em que a reportagem do NOVO JORNAL acompanhou a jornada de trabalho das médicas estrangeiras na Unidade Básica de Saúde do conjunto Pajuçara, na Zona Norte da capital potiguar: “Estamos aqui apenas para ajudar, para trabalhar”.

Como um mantra, essa sentença era repetida a cada investida sobre assuntos mais polêmicos ou ligados à política brasileira. Compreensível, dado o contexto que envolve o trabalho delas, um projeto polêmico, custeado com verba federal. Questões mais íntimas, relacionadas à vida pessoal, também causaram estranheza, num primeiro momento, mas nada que outra dose bem medida de insistência não resolvesse.

Passada a reserva inicial, Yasel e Yamile se animaram na conversa e detalharam as similaridades entre os dois países. Questionadas se houve algum tipo de choque cultural, algum hábito brasileiro que chamou atenção ou mesmo as incomodou, as cubanas revelaram que Cuba e Brasil – especialmente Natal – são muito mais parecidos do que se imagina, pelo menos geograficamente. Apesar da diferença básica de ser uma ilha, o país de Fidel Castro tem, hoje, o turismo como principal atividade econômica, assim como a terra de Cascudo.

Por conta disso, elas não se mostraram tão maravilhadas com os nossos principais cartões postais. “Achei tudo muito perfeito, as praias são encantadoras, mas não é nada que já não conhecêssemos. Cuba, afinal, é cercada pelo mar do Caribe, as praias de lá são estonteantes, com areia fininha e um mar lindo, transparente”, explica Yamile. Ainda segundo ela, a semelhança é tamanha que “às vezes me flagro pensado estar em Varadero, de tão similar que é o clima”, pontua.

Varadero – vale contextualizar – é um balneário cubano, localizado na província de Matanzas (130 km da capital, Havana), famosíssimo pelo imenso potencial turístico. O local recebe mais de um milhão de turistas todos os anos, sendo responsável por aproximadamente 40% dos recursos arrecadados pelo setor do turismo na ilha. Um lugar que admirou bastante as médicas – especialmente Yamile – foi Brasília, por conta da arquitetura e do clima de “cidade grande e desenvolvida”.

Ela, que já esteve na Venezuela participando de um programa similar ao “Mais Médicos”, passou 21 dias na capital federal, participando de um curso que envolveu noções gerais de língua portuguesa e todo o protocolo médico do Sistema Único de Saúde. Natural da província de Holguin, no extremo oeste do país, muito distante de Havana, a médica tem quinze anos de experiência em clínica geral. Em Cuba, atendia a mulheres, gestantes, crianças e homens por causa da amplitude de sua especialidade.

Fonte: Novo Jornal