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Zona Norte perde leitos de UTI Adulto e população protesta em frente ao Hospital Santa Catarina

Geral

02.08.2013

Servidores e líderes comunitários realizaram um protesto na manhã desta quinta-feira (1) em frente ao Hospital Doutor José Pedro Bezerra, conhecido como Hospital Santa Catarina, na zona Norte de Natal, contra a transferência dos três leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto da unidade para o Hospital Doutor Ruy Pereira, no bairro de Petrópolis. A transferência, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), é apenas por dois meses, tempo necessário para que as obras de reforma da UTI do Hospital Santa Catarina fiquem prontas. Dos três pacientes que estão internados na UTI Adulto do Hospital Santa Catarina, dois estão estáveis e já não precisam de tratamentos intensivos. Agora, eles esperam vaga no setor de clínica médica e clínica cirúrgica no próprio hospital. O outro paciente ainda depende de respirador e precisa da transferência, mas ainda encontra a resistência dos familiares para que a remoção do paciente seja feita.

Milklei Leite é filho de Francisco Carvalho de Farias, 58 anos, que está internado há 15 dias e precisa ser transferido. Ele conta que foi informado pela imprensa de que a UTI seria transferida para o Hospital Ruy Pereira. “A informação que temos é que o Hospital Ruy Pereira falta tudo, seringa, gazes e medicamentos. É um absurdo. Não vou deixar meu pai ser transferido, pois não é uma questão mais apenas do meu pai e sim de toda a zona Norte. Além disso, meu pai sendo transferido ficará complicado de irmos visitá-lo, como fazemos aqui todos os dias”. Milklei mora em Jardim Progresso, no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, na zona Norte.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) informou que a transferência da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Catarina, será necessária com o objetivo de otimizar os recursos humanos e infraestrutura hospitalar, e de modo a ampliar e assegurar uma melhor assistência à população. Os três leitos de UTI Adulto foram transferidos para o Hospital Ruy Pereira.

A Secretaria explica que a transferência concomitante dos profissionais de enfermagem vai permitir a abertura de mais três leitos de UTI Adulto no Hospital Ruy Pereira, além dos três leitos transferidos do Hospital Santa Catarina, totalizando, assim, seis leitos de UTI Adulto. Além disso, três cardiologistas que estavam na escala da UTI do Hospital Santa Catarina estão sendo temporariamente transferidos para a UTI Cardiológica do Hospital Walfredo Gurgel, o que vai assegurar a continuidade desse serviço, que estava ameaçada depois que cinco cardiologistas da unidade pediram demissão no mês passado. Com a transferência dos cardiologistas, a escala de profissionais da UTI Cardiológica do Walfredo Gurgel está completa até o fim do mês.

O diretor administrativo e financeiro do Hospital Santa Catarina, Antônio Alves, explicou que a reforma da UTI já está praticamente concluída, estando apenas na parte dos acabamentos.

Daqui a dois meses, a UTI estará aberta, segundo Antônio, não apenas com três leitos e sim com dez leitos e mais um para isolamento. Destes leitos, dois são para tratamento de hemodiálise. O diretor disse que existe um processo tramitando na Sesap, em fase de execução, na ordem de R$ 2 milhões, com recursos do Ministério da Saúde, para aquisição de equipamentos novos e modernos para a nova UTI, como camas, respiradores, monitores, dentre outros. Além disso, Antônio Alves garantiu que haverá profissionais suficientes para a abertura dos dez leitos, daqui a dois meses.

Simone Dutra, coordenadora geral do Sindsaúde, considera que a transferência dos leitos de UTI foi um golpe, não só para os funcionários que trabalham na unidade, mas também para a população da zona Norte de Natal que fica desassistida. Diante dessa situação, Simone afirmou que o Sindicato vai entrar com uma representação junto ao Ministério Público contra o fechamento, mesmo que temporário, da UTI do Hospital Santa Catarina.

“Os funcionários não aceitam e estão revoltados, bem como a população. Ninguém aceita essa postura do Governo do Estado, de autoritarismo, que não conta com o apoio dos servidores. Se a Secretaria tivesse o mínimo de respeito jamais teria uma postura tão arbitrária e autoritária e agora a zona Norte fica sem leitos de UTI e isso coloca em risco a vida das pessoas”, destacou.

A sindicalista teme que o Hospital Santa Catarina, em curto prazo, seja transformado em um grande posto de saúde, já que os serviços estão sendo extintos da unidade, como a ortopedia e a pediatria, que só tem profissionais até o dia 19 para garantir o funcionamento do Pronto Socorro Infantil. Simone não acredita que a transferência seja provisória, apenas por dois meses. Segundo ela, já que os profissionais foram transferidos, quando a unidade for reaberta faltará profissionais para garantir a assistência.

“A reanimação do Pronto Socorro está se transformando em uma UTI. Várias pessoas estão morrendo por falta de assistência e esse número vai aumentar ainda mais. A reanimação tende a se transformar em UTI, mas sem médico intensivista e sem condições para funcionamento. Aqui é um hospital para gestação de alto risco e muitas vezes é necessária a disponibilidade de leitos de UTI para essas pacientes e como é que fecham uma UTI do hospital responsável pelo alto risco do Estado? É uma irresponsabilidade muito grande por parte desse governo, que fecha um serviço para abrir outro”, afirmou. Na manhã de hoje, a reanimação, que conta com seis leitos, contava com cinco pacientes internados.

A técnica de enfermagem Elza Dantas trabalhava na UTI Adulto do Hospital Santa Catarina. Ela conta que foi comunicada “de última hora”. Ela foi transferida e a partir de hoje, segundo consta no Diário Oficial do Estado, ela é funcionaria do Hospital Ruy Pereira. “Não queríamos uma preparação para mim ou para os meus colegas, mas para a população da zona Norte. Nós estamos pensando naquelas pessoas que precisam. Todos os dias morrem pessoas já tendo apenas três leitos, imagine quando sair esses leitos. As gestantes de alto risco vão ficar à mercê. Pacientes infartados não conseguiram chegar até o Ruy Pereira e morreram também. Estão jogando a gente para lá, e não sabemos nem se voltamos para cá. Ficamos tristes pela população, pois sou funcionaria pública e trabalho em qualquer lugar”, desabafou a técnica de enfermagem.

População também protesta

O protesto realizado na manhã de hoje contou com a presença de lideres comunitários que reclamaram da falta de assistência à saúde na região Norte da cidade. O presidente do Conselho Comunitário de Novo Horizonte, Ivanildo Batista do Nascimento, conhecido como Legal, acredita que o fechamento da UTI do Santa Catarina vai dificultar ainda mais a assistência à população, que na opinião dele, já é precária. “Queria que a governadora respeitasse os votos que demos a ela. A nossa situação está difícil. Em Novo Horizonte a situação é precária, pois a UPA de Pajuçara não resolve nada”, destacou.

Jeferson Andrade, presidente do Conselho Comunitário do Jardim Brasil, considera que a transferência da UTI para o Hospital Ruy Pereira é uma falta de respeito com a população da zona Norte de Natal. “A nossa comunidade é carente, a população não tem condições de pagar um táxi para vir para o Hospital Santa Catarina, quem dirá para o Ruy Pereira. Somos contra e estamos aqui, unidos, para não fechar os serviços de saúde da zona Norte”, afirmou.

Os lideres comunitários do Parque das Dunas, Welton Maia, do Jardim Progresso, que possui 31 mil habitantes e não possui uma unidade de saúde, José Haroldo Fernandes, do Loteamento José Sarney, João Bosco e de outras localidades também participaram do protesto.

Reprodução: Jornal de Hoje